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10/07/07 - Terça-feira
As questões éticas, o policiamento
massificado e a mídia brasileira
Em tempos modernos como os nossos,
proliferam tantos os problemas éticos quanto os braços
desarmados da polícia. Com o enfraquecimento das figuras
tradicionais do Outro, ou ainda, em alguns casos, ausentes, surge
uma angústia produzida pela falta de referenciais simbólicos
e, com isso, o conseqüente aparecimento de “ditadores
transitórios” fque propagam tanto o medo quanto a
salvação e o incremento do discurso fundamentalista,
nas mais diversas instâncias.
Recentemente, o Conselho Federal de Psicologia propôs um
seminário intitulado “Mídia e Psicologia:
Produção de Subjetividade e Coletividade”
o seminário, segundo a chamada, tinha como propósito:
“O atual estado de controle sobre os meios de
comunicação de massa no Brasil consiste em
verdadeiro obstáculo para que o Brasil se reconheça
enquanto nação plural. Hoje, cinco famílias
brasileiras controlam certa de 95% dos meios de
comunicação de todo o território nacional.
No ano de
2006, em meio ao pleito presidencial, todo o Brasil
pôde constatar o potencial risco de os meios de
comunicação adotarem o comportamento de
interferência sectária na definição
do futuro
político do país. É a usurpação
do direito de um
povo escolher os rumos que quer tomar.
Como aprendemos com Perseu Abramo, no livro
Padrões de Manipulação na Grande Imprensa,
são
demasiados os modos de manipulação utilizados pelos
meios de comunicação. E essa influência torna-se
ainda mais forte e prejudicial no atual ambiente de
monopólio da comunicação no país.
E isso não pode
passar despercebido.
Diante desse quadro, várias entidades que
reúnem psicólogos profissionais, pesquisadores e
estudantes de Psicologia do Brasil começaram a
definir linhas de conduta para a luta pela
democratização da comunicação no país.
Dentre tais
condutas, encontra-se a defesa intransigente do
acesso à geração e difusão de informação
por parte
de grupos tratados como minoritários pela população
brasileira (tais como representantes de diferentes
orientações sexuais, de diferentes origens étnicas,
de diferentes classes sociais e de diferentes níveis
de formação escolar).
Nessas condutas encontra-se também a defesa
perene a um tratamento condigno às diferentes formas
de expressão cultural existentes no país, que
prescinde da presença e do respeito, nos meios de
comunicação, aos diferentes aspectos das culturas
típicas das diversas regiões brasileiras, expressas
nos diferentes modos de falar, nos diferentes
hábitos alimentares, nas diferentes histórias
regionais e na diversidade do povo brasileiro.
Defendemos também, como linha de conduta, o
combate intransigente às ações homogeneizantes
dos
meios de comunicação, e, ainda, defendemos a
produção de uma contribuição efetiva
do conhecimento
psicológico para a luta pela construção de
processos
de comunicação que ajudem o Brasil a se compreender
em sua totalidade e a se desenvolver enquanto uma
nação de muitos rostos, muitas vozes.
Por isso é que nós, psicólogos, estudantes,
professores e pesquisadores de Psicologia de todo o
Brasil queremos uma Conferência Nacional de
Comunicação Social. Queremos uma conferência
que
nasça nos municípios, com a cara e as necessidades
do povo brasileiro, e que represente todo o
território nacional, em toda a sua diversidade.
Queremos uma conferência não verticalizada, imposta
com encaminhamentos definidos por grupos
minoritários e que nos chegue de cima pra baixo,
feita às pressas.
Queremos uma Conferência que seja construída
com ampla discussão social e com a participação
de
todas as visões presentes na sociedade; queremos uma
Conferência Nacional de Comunicação na qual
participem todos os atores envolvidos no processo de
comunicação (que participem os movimentos sociais;
o
empresariado; os profissionais de todas as áreas,
incluindo a Psicologia; que participem as rádios e
TVs comunitárias; os professores e profissionais das
áreas de Comunicação; que participem os professores,
os gestores, os interessados no tema).
Para construir esta Conferência Nacional de
Comunicação Social, nós, professores, estudantes,
pesquisadores de Psicologia e os psicólogos,
dispomo-nos a atuar militantemente na produção do
debate social sobre o tema. E convidamos todos os
cidadãos brasileiros a este diálogo. Vamos utilizar
os instrumentos produzidos pelo Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação para
promover debates
com nossos grupos de trabalho, grupos de estudo e
com as nossas famílias.
Convidamos a todos para se engajarem nesta
luta: a hora é agora!”
ao comentar o mannifesto, Reinaldo
Azevedo, sem seu blog (ele é da Veja), disse:
’"Não há
nenhum pensamento importante que a
burrice não saiba usar, ela é móvel para
todos os
lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A
verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e
só um caminho, e está sempre em desvantagem"’
Robert Musil em O Homem sem Qualidades
”Viva a homogeneização cultural! Abaixo o
maracatu! Começa depois de amanhã, no Rio, e vai
até o
dia 30 o seminário nacional Mídia e Psicologia:
Produção de Subjetividade e Coletividade. É
uma
promoção do Conselho Federal de Psicologia, da
Associação Brasileira de Ensino de Psicologia, do
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
e
do Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia
Brasileira. Os valentes divulgaram uma
carta-manifesto, que reproduzo abaixo, em vermelho,
conforme o original. Leiam. Volto depois.
Voltei
São psicólogos ou candidatos a censores?
Digam-me cá: o que há de, vamos lá,
"psicologicamente relevante" nesse apanhado de
bobagens? Onde estão os referenciais da psicologia,
já que os signatários falaram nessa condição?
Trata-se de um manifesto político e, pior do que
tudo, político-partidário, embora omita essa
condição. Não por acaso, a obra que, assumidamente,
lhes serve de referência foi escrita por um notório
esquerdista, que batiza o fundação que serve de
centro de estudos do PT: Perseu Abramo.
Afirmar que, hoje em dia, 95% dos meios de
comunicação estão nas mãos de cinco
famílias
corresponde a mentir de uma forma descarada. Essa
gente omite, por exemplo, a fantástica e cara
máquina de comunicação do governo e a imprensa
sindical e das ONGs. Mais: na era da Internet, está
em curso é uma desconcentração da informação.
Observem que a carta compra a tese de que
houve uma tentativa de interferência dos meios de
comunicação na eleição de 2006, o
que é uma mentira
deslavada, inventada pelo PT, para encobrir as sua
falcatruas, com o auxilio de meia-dúzia de
jornalistas que dependem, para viver, da verba de
empresas estatais. Qual foi a tentativa de golpe? É
fácil de responder: as notícias sobre o dossiê
petista.
Trata-se de uma carta fraudulenta, escrita por
defensores da censura branca que se tenta impor ao
país. Ontem, o tal José Eduardo Romão, diretor
do
Departamento de Justiça, e Guilherme Canela, um
ongueiro de voz suave, tiveram a chance de defender
a classificação indicativa - outro nome de censura
prévia - no programa Roda Viva. Não conseguiram.
Não
conseguiram provar nem mesmo a constitucionalidade
do que pretendem.
As quatro entidades, protegidas pelo véu de
uma suposta representação de categoria, estão
é se
alinhando com o projeto petista de censurar a mídia
- na verdade, colocam-se como tentáculos do partido.
Fico fascinado que psicólogos se dediquem a tal
tarefa. A sua primeira obrigação é olhar
para o
próprio rabo, indagando-se: "Por que será que
nos
damos o direito de dizer o que é melhor para eles?".
Mais: fingem que lidam com valores humanos e
universais.
Pois eu já acho, por exemplo, que a Rede Globo
faz um bem enorme ao país. Dou um exemplo. Repararam
como só nos últimos, sei lá, dez anos, talvez
menos,
o cinema brasileiro aprendeu a falar? Sim, isto
mesmo: falar. Os diálogos das obras nacionais na
telona sempre se pareceram mais com uma declamação
do que com uma fala corriqueira, coisa que o cinema
americano sabe fazer desde sempre. Quem emprestou
naturalidade à fala do brasileiro na tela, ainda que
errando o acento de certos sotaques? As novelas.
Não sei se Selva de Pedra contribuiu para
acabar com o catira de São Paulo ou com o maracatu
de Pernambuco. Se o fez, vai ver ofereceu algo às
pessoas de que elas estavam um tanto carentes, que o
catira e o maracatu já não podiam oferecer. Mais
ou
menos como a psicologia substituiu as benzeduras do
meu interior. Com a ligeira diferença de que eu, se
for preciso, entrego-me às benzedeiras, mas jamais
ficaria a mercê de psicólogos - a menos que tivessem
formação psicanalítica. E necessariamente
freudiana.
Exijo que um analista tenha lido mais Freud do que
eu. E, garanto, não é fácil.
Vão catar coquinho na beira do brejo teórico
do Romãozinho. Esse truque é manjado. Quando os
candidatos a censores falam do amplo apoio da
sociedade, referem-se a entidades como essas, que se
comportam como meros esbirros do PT.
Viva a homogeneização cultural!
Abaixo os localismos!
Viva a urbe!
Abaixo a tribo!
PS: Ah, sim, eles escrevem lá: "Dispomo-nos a
atuar militantemente na produção do debate social
sobre o tema." Isso é falta do que fazer. Cabeça
desocupada é a casa do capeta. Fidel Castro os
mandaria para os canaviais. O facínora - que anda
sendo rejeitado até pelo diabo, que se nega a
carregá-lo para o inferno - não deixa de ter seu
lado simpático, não é mesmo?
Por Reinaldo Azevedo | 20:09.
Gostaria de discutir um pouco, bem
rapidamente, as considerações do senhor Azevedo.
O texto dele é muito interessante, pois ele nos faz pensar
seriamente nas diretrizes dadas pela senhora Ana Bock e sua turma.
Depois de querer que os psicólogos denunciem quem cometeu
abuso sexual (ou alguém que foi abusado e deu o nome do
"abusador"), colocando a psicologia como braço
da polícia, agora ela quer a psicologia um braço
do PT. Valha-me, Deus!
Sou petista, votei no Lula, voto novamente se for preciso, mas,
péra lá, já passou o tempo da paranóia
da imprensa! Para se falar de mídia, é necessário
ter os fundamentos do lado do dispositivo midiático, das
condições de produção, das condições
de recepção e, ainda, das múltiplas estratégias
que são usadas para fazer valer seus objetivos e visadas
e isso, cá prá nós, parece-me que falta ao
texto do manifesto psicologista. Tomar como referencial apenas
a Escola de Frankfurt já não é mais suficiente
para explicar a máquina midiática de hoje, como
não dá mais para ler o mundo a partir dos olhos
de Marx! Os tempos são outros! Vivemos tempos hipermodernos,
uma alta modernidade que Giddens já estudou muito, que
Jacques-Allain Miller e Lypovetsky também já discutiram
sobre a hipermodernidade e "otras cositas más".
Concordo que falta ao texto do manifesto
referências psi. Vejo ali mais uma delcaração
apaixonada e, convenhamos, as paixões nos ludibriam, pois
causam efeito de massa e, consequentemente, promovem alienação.
De mais, para finalizar, Lacan nos diz que o praticante da Psicanálise
deve saber interpretar subjetividade no relançar do horizonte
de seu tempo e isso serve também para a psicologia.
No mais, gerais...
"O mundo costuma dividir
as pessoas entre boas e más. Mas elas também são
chiques e chatas". Oscar Wilde.
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Cássio
Miranda é psicanalista, doutorando em Letras
pela UFMG e escreve todas as terças. E-mail:
cassioedu@oi.com.br
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