
12/09/07
A Narrativa Jornalística em Ambientes
Digitais
Voltando ao tema da Arquitetura
da informação e do conteúdo em ambientes
digitais, nesta sexta irei debater um pouco, a partir do
meu ponto de vista, as possibilidades na narrativa jornalística
na internet.
Pollyana Ferrari, autora do
famoso livro Jornalismo Digital, aponta que “os elementos
que compõem o conteúdo on-line vão
muito além dos tradicionalmente utilizados na cobertura
impressa – texto, fotos e gráficos. Podem-se
adicionar seqüências de vídeo, áudio
e ilustrações animadas”. Partindo deste
raciocínio, apontamos um ponto de extrema relevância
na compreensão da narrativa jornalística em
ambientes digitais: A notícia se constitui a partir
de referências que não somente o próprio
texto. Para ser mais claro, o usuário, ao ler uma
notícia, se mune, em um primeiro momento do próprio
texto, mas posteriormente busca (no próprio site,
ou em referências externas) complementos, que vão
desde comentários de outros usuários à
informação publicada, até pesquisa
de artigos em portais de instituições de ensino.
Sobre isso, estamos cansados
de saber. Mas pouco se fala sobre o texto dentro do texto.
Para compreendermos as possibilidades
narrativas (discursos ideológicos, referências
e outras possibilidades) temos de retomar as características
axiomáticas do texto digital. Antes de mais nada,
é necessário perceber que, o texto visualizado
na tela está imerso em um segundo texto, que possui
linguagem e estrutura própria, seja HTML, XML, ou
qualquer outra linguagem.
Há, no processo de comunicação
digital, um suporte textual por detrás do texto visualizado.
Quando se escreve um título, na verdade dá-se
também um comando para que a linguagem da internet
atribua àquela frase um valor. O processo de visualização
de um website, compreende a solicitação e
a interpretação de um navegador (internet
explorer, por exemplo) a um “texto” (site) disponível
em um servidor. Ao receber a resposta, o navegador lê
o texto-código (HTML, XML etc), outros textos de
funções específicas (CSS, scripts),
conteúdo multimídia (foto, vídeo, áudio
etc), o texto a ser exibido (a matéria em si, por
exemplo) e, somando tudo, exibe o resultado na tela do usuário
final.
Em um primeiro momento, a percepção
destas peculiaridades pode parecer desnecessária,
mas, com uma breve reflexão percebemos que, somente
a partir do conhecimento das estruturas básicas é
que poderemos explorar ao máximo novas possibilidades
criando uma narrativa jornalística mais rica e atrativa.
São estas possibilidades
também que dão ao conteúdo digital
um caráter menos centralizado. Ângela Balmiro,
em seu artigo Fala, Escrita e Navegação: Caminhos
da Cognição ressalta a importância da
internet neste sentido: “A cibercultura possibilita
ao emissor e o receptor da mensagem partilhar o mesmo contexto,
a mesma mensagem conectada a outras, o mesmo hipertexto,
embora, muitas vezes, de forma caótica. E nesse imenso
hipertexto, a legitimidade do emissor se dilui na conexão
e na interação dos múltiplos receptores,
também emissores”.
Em seus primórdios a
internet (na época denominada ARPANET) atendia apenas
a interesses militares, posteriormente, a fins acadêmicos,
até que chegasse a ser utilizada privadamente. Já
neste estágio, a rede se estruturou, apresentando
aos usuários infinitos caminhos de navegação.
O hiperlink surge então como uma ferramenta valiosa
na construção textual.
A narrativa jornalística
também se vale deste recurso, ao criar mecanismos
de orientação para a leitura do usuário.
O que no texto impresso chamamos de retrancas, na mídia
digital trabalha-se melhor, direcionando o usuário
a informações mais completas sobre assuntos
específicos dentro do texto.
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Salomão Terra
é jornalista, webpublisher, pós-graduando
em Jornalismo e Cultura pelo Uni-BH. Além de colaborador
e colunista do site O Binóculo, estuda Cibercultura
e Arquitetura da Informação, atua como webwriter,
matem o blog Infosfera e colabora em websites de tecnologia
e informação. Tecle com ele: salomaoterra@gmail.com
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