01/06/07
Língua nos dentes

Cotas. Assunto polêmico. Talvez fosse melhor me abster, porque afinal das contas, já me formei jornalista, sim senhor. Mas, como minha mãe sempre diz, minha língua não cabe dentro da boca. Adaptando, minhas palavras não cabem dentro das minhas observações pessoais. São exibidas, gostam de se exibir. E cá estão elas novamente...

Pode parecer um assunto meio velho. Aliás, essa questão de preconceito é bem das antigas mesmo. Mas parece areia movediça. Anda, anda e não sai do lugar, e quanto mais a gente tenta, mas se afunda. Se fosse fogueira, diria que sempre tem lenha nova chegando. E ta ai que, lá de Brasília, incendiaram a fogueira.

Pra quem já sabe do que eu to falando, eu peço licença pra explicar pra’queles que estão chegando agora e não ta entendendo bulhufas. A universidade de Brasília adotou, há dois anos, o sistema de cotas raciais e dizem que a coisa ta funcionando bem. Hum. Então ta. Mas dia desses um par de dois gêmeos idênticos (o pleonasmo vicioso é fundamental e proposital) se candidataram à uma dessas vagas. Pode parecer piada, mas após os dois terem o perfil e fotos analisadas, apenas um foi aceito.

Não sei te dizer qual dos dois, porque eles são realmente idênticos! A banca que analisa dos dados e fotos dos candidatos, também é a mesma. O que aconteceu, não dá pra saber. Como diria o Xicó, aquele do Auto da Compadecida, “num sei, só sei que foi assim”.

No país dos absurdos e despropósitos, que tem juiz que manda soltar meliante condenado sem que nem porquê, um absurdo a mais, outro a menos, não faz mal a ninguém, certo? Se você pensa assim, bem então por hoje é só. Mas se você joga no meu time e gosta de levar a questão mais a fundo, continuemos...

Pra início de conversa, fala de um povo que desconhece a sua história, a sua cultura. No primeiro século da colonização européia, muitas mulheres não vieram para o conhecido fim de mundo. Os homens europeus, carentes, deparam-se com índias seminuas e irresistíveis. Daí, pimba!!! Um número significativo de avós, bisavós e tataravós são (ou foram) índias. Prova disso está no nosso DNA: estudos realizados pela Universidade Federal de Minas Gerais atestam que os genes formadores do nosso povo têm muito mais do sangue do ameríndio do que se pensava. Ainda não acredita? Bom, então vamos ao percentual genético dos brasileiros: 39% de europeus, 33% de indígenas e 28% de africanos. Nosso sangue é uma mistura só! E a cor da pele, definitivamente, não indica muita coisa.

Aonde quero chegar? Bom, vamos lá... Isto posto, concluo que esse sistema de cotas não diz muita coisa. A começar, é falho, como nos prova o caso dos gêmeos. E falhar com a educação é um erro imperdoável. Tal qual Mário Quintana disse: um erro em bronze, para sempre. Além disso, é superficial demais, trata a coisa como questão de cor. O problema, assim, como o DNA é invisível, nos pede mais sensibilidade...

A questão das cotas deveria ser tratada partindo-se do ponto de vista socioeconômico. Porque aí sim, a gente acerta o alvo em cheio, dando condições de crescimento pessoal a quem não banca as próprias pernas. E antes que você venha me dizer que devemos tratar todos iguais, a partir de suas diferenças, rebato: devemos sim, mas a partir de diferenças reais e não apenas visuais.


 

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Thaís Palhares é belorizontina de nascença. Palhares de pai. Fernandes de mãe. Thaís de comum acordo. Jornalista por opção e por convicção. Escritora por paixão. Viva, por isso, incansável. Escreve aqui todas as sextas-feiras. Fale com ela: thaisgalak@gmail.com

 
 

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