04/05/07
Costura certa

Os resultados da pesquisa realizada pelo IBGE que indica que 15,7 milhões de brasileiros até 17 anos estavam, em 2004, fora de escolas ou creches, não surpreendem. A surpresa é menor ainda quando a pesquisa aponta que, mesmo entre os jovens regularmente matriculados, existem diferenças pontuais entre a educação dedicada ao aluno da rede pública e da rede privada. Os dados indicam que, apesar dos avanços na questão do acesso à educação, o Brasil reproduz desigualdades sociais nesse campo.

A pesquisa do IBGE remete a uma entrevista amplamente divulgada nos anos 80, onde um lavrador do sul de Minas era indagado quanto ao conceito de educação. Para Ciço, o lavrador, existe dois tipos de educação: aquela que forma doutores e nos remete à cadernos, livros e professora bem instruída e a educação que recebeu, bem distante dessa realidade. Professores pouco preparados que ensinam apenas o bê-á-bá, essa educação está longe de transformar pessoas em doutores. Ciço conclui a entrevista dizendo que “mão que foi feita pro cabo da enxada acha caneta pesada demais”.

A história do lavrador do Sul de Minas é um retrato do Brasil, longe da Ordem e do Progresso propostos em verde e amarelo. Num país fragmentado, pensar a educação como um processo único é cair no vazio, jogando pérolas aos porcos. A educação, investimento imprescindível para o desenvolvimento em longo prazo, fica relegada a segundo plano na luta pela sobrevivência de alguns brasileiros. É comum ouvir, nesses casos, que educação não enche barriga. É quando exemplos como o da Coréia do Sul, que após um investimento maciço na educação cresceu rapidamente, parecem distantes demais, inaplicáveis ao Brasil.

Numa trama cheia de percalços e poréns, a solução antecede ao processo. Investir na educação é o único caminho na formação de indivíduos capacitados e com consciência crítica, capazes de debater e enfrentar problemas sociais. A atenção deve estar na forma como o investimento será feito para que ele não se perca. Já é notório que os benéficos gerados pela educação vão além do indivíduo, reforçando o tecido social. Nosso tecido é, na verdade, uma colcha de retalhos, e na maneira como ela é costurada, está o segredo.



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Thaís Palhares é belorizontina de nascença. Palhares de pai. Fernandes de mãe. Thaís de comum acordo. Jornalista por opção e por convicção. Escritora por paixão. Viva, por isso, incansável. Escreve aqui todas as sextas-feiras. Fale com ela: thaisgalak@gmail.com

 
 

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