Quarta-feira - 04/07/07

Vida moderna
Welcome to reality

Por uma semana eu quero esquecer de coisas que ouço e vejo todos os dias ao ligar a TV. Quero desligá-la de mim e decretar que ela morra por uma semana, mas que ressuscite na hora da novela das oito que ainda gosto de ver, digo ainda, porque talvez até ela, se continuar desafiando minha inteligência, irá morrer também. Quero esquecer nesse tempo das guerras do Iraque, das bombas em Londres, do capitalismo selvagem, das CPIs e de tudo que esteja relacionado a isso.

Quero esquecer que tenho que acordar cedo todos os dias, que tenho que comer pelo menos uma maçã ao dia porque faz bem para dor de cabeça, que provavelmente terei assim que meu chefe chegar por esta porta e me entregar uma pilha de coisas para fazer. Quero esquecer que tenho que comer uma banana por causa do potássio, ingerir muita fibra para regularizar o intestino e diminuir o azeite para meu colesterol não explodir. Quero esquecer que eu devo também tomar uma aspirina para não enfartar, uma taça de vinho branco para estabilizar meu sistema nervoso e um copo de cerveja para dar ao meu organismo a sensação de que estou com a alma lavada. E depois da cerveja, vem a reflexão: comemos banana porque gostamos ou é realmente por causa do potássio?

To cansada de tudo isso, de tentar ser a moça do comercial de margarina que tem uma família perfeita, um café da manhã maravilhoso e que mesmo comendo aquele tanto de coisas continua linda e magra. Quero dormir até meio dia, ler todos aqueles livros que sempre deixei para amanhã e dar uma arruma na bagunça do meu quarto. Quero esquecer que o PAN vai começar e que a fila do ônibus vai aumentar ainda mais e que provavelmente eu terei que levantar ainda mais cedo.

Quero esquecer do tanto de peso que tenho que carregar naquela academia todos os dias para manter o padrão das modelos bulemicas e anoréxicas que invadem minha vida e estão em todos os lugares me mostrando que bonito é ser cheia de ossos. Quero esquecer que tenho uma trouxa de roupa para lavar e passar, que o banheiro ainda está precisando de uma faxina e que tenho que ir ao salão dar um jeito na unha, porque afinal, é preciso estar sempre linda, ainda que morta de cansaço. Quero esquecer de todos os complexos, seja “B”, seja do “Alemão”, seja de “inferioridade” ou do que for. Quero esquecer de tudo o que me faz mal e me irrita. Quero pensar em coisas boas, num mundo justo, onde pessoas não são espancadas por “filhinhos de papai” metidos a besta, onde crianças podem estudar sem medo, onde os salários são justos, onde ainda existe esperança. Um mundo que eu sei que não vivo. Triste conclusão. Ainda bem que faltam 5 minutos para eu acordar...

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Patrícia Caldas é uma carioca que ama Belo Horizonte, mas não abre mão das lindas praias da cidade maravilhosa. Sua alegria está em escrever e gritar para os quatro cantos do mundo suas verdades. Além de ter esperanças de um mundo melhor, ser irônica e perspicaz, é jornalista. Escreve todas as quartas-feiras na coluna Diz Tudo. E-mail: p.jornalista@gmail.com

 
 

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