14/06/07 - Quinta-feira

Entre 8 meses e 79 anos

O dia estava belo!

Lá dentro pai, mãe, irmãos, esposa e cunhado. Cá fora nós três. Saímos para caminhar. Não tínhamos destino certo, apenas queríamos curtir um pouco mais aquele momento. Algumas pessoas estavam sentadas nos passeios; outras caminhavam como nós, sem pressa. Ao meu lado, ele contava casos, coisas vividas há tempos. Opinava sobre essa e aquela árvore; alguns animais em lotes vagos também chamavam sua atenção. Dizia: “Etá bicho mal cuidado; é pele e osso”. Esses comentários iam permeando a conversa. Vez ou outra ele deixava eu falar, mas não o via muito interessado.

No decorrer da caminhada, ele cumprimentava muita gente. Com um detalhe, não conhecia ninguém, mas para ele não tinha a menor importância, queria ser amigável. “Opa! Na sombra aí hein compadre”. As pessoas respondiam, também, de forma cortês. E assim ele mesclava entre contar histórias, fazer observações e cumprimentar todos que cruzavam nosso caminho.

Eram 79 anos de vida ao meu lado!

Caminhamos pouco. O tempo necessário para que o outro pudesse dormir. Imagine só, dormir em uma caminhada. Mas ele é assim mesmo. Não está nem aí para esses modismos banais. Coisas que nos tornam iguais, sem personalidade. Não sei até quando ele será assim, mas tenho certeza que ainda por um longo tempo.

Ele olhava tudo a sua volta. Um mundo novo a cada curva, a cada cachorro que passeava sem rumo, a cada cavalo pastando em lotes vagos. Creio ter sido essa enxurrada de novidades que o fez cansar e que dormisse. Logo ele que não é de dormir assim tão fácil.

Em toda caminhada ele apenas observava, atentamente, tudo. Quando quis dormir, resmungou um pouquinho, normal.

Eram 8 meses de vida em meus braços!

Às vezes olhava aquelas rugas ao meu lado, aquele rosto em meu colo e sentia o tempo me abraçar em três gerações. Sei que daqui a pouco ocuparei o lugar ao meu lado; ele que está em meu colo ocupará meu lugar e seus braços serão estendidos para outra vida. Vislumbrava imagens futuras, coisas que gostaria que acontecessem.

Chegamos em frente ao portão. Lá dentro seria o encontro de quatro gerações.

Mas enquanto não entrávamos, curtia cá fora, em meus braços, os 8 meses de vida do meu filho; ao meu lado sentia os 79 anos do meu avô pulsando. E no meio eu. Cheio de dúvidas sobre a vida. Sentindo o tempo tocar meu rosto.

Foi assim uma cena do passeio à casa da minha irmã e meu cunhado. E, entre 8 meses e 79 anos, várias vidas se cruzaram. O tempo tocava cada um com sua magia e perversidade.

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Gledson José Machado é jornalista, amante da literatura, da poesia e das escritas. É assessor de comunicação da Açoforja. Escreve todas as quintas-feiras.
E-mail: gledsoncd@gmail.com

 
 

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