26/04/07
Uma outra que não aquela

Desfazendo o estereótipo de ilha da fantasia, a cidade se despiu diante dela. Revelou suas curvas, seus contornos e seu entorno, infinito sob esse olhar. Não era, pois, uma cidade de terno e gravata. Não era uma prostituta que cheirava a pizza. Não era uma cidade de terça a quinta. Não, não era essa que se revelava diante dos olhos dela... Ela cruzou a ponte JK e sobre o Rio Paranoá encantou-se diante da cidade nua que tinha os olhos brilhando de um jeito encantador.

Era uma jovem ainda nos seus quarenta e tantos anos. Fez-se pacientemente além da hora do Brasil, do Senado, do Congresso, da Esplanada. Fez-se sorrateira e cuidadosamente por mãos calejadas vindas daqui e dali... Mãos que se agarram na esperança de dias melhores e querem fazer dela a morada, a acolhida, o sonho, o lar... Fez-se nos pés firmes de gente que prefere as pernas que se movimentam e que, vez ou outra, é esquecida dos planos do plano piloto. Gente "que enfrenta a dor, que não inventa o mal”.

A cidade que se mostrava diante dos olhos dela falava com um sotaque singular na sua pluralidade. Uai, trem, oxê, mainha, mermão, orra meu, vixe, coisa de louco, tchê! Era uma cidade de mineiros, paulistas, cariocas, acrianos, paraenses, gaúchos, brasilienses... Todos ainda candangos, sempre candangos. Sim, candangos como aqueles que lá chegaram para edificá-la. Candangos que constroem uma cidade alicerçada em sonhos próprios. Constroem uma cidade enquanto constroem - ou reconstroem - suas vidas.

E foi numa terra seca que ela viu brotar essa gente de bem. Compreendeu, pela primeira vez, os contornos de Niemeyer, a utopia de JK e a fé apesar de. Porque essa última vai além... Foi então que ela entendeu o Renato Russo, o tal João de Santo Cristo que foi pra Brasília pra falar com o presidente pra ajudar toda essa gente... Perguntou-se onde o presidente estaria, mas decidiu não falar de política... Seus olhos estavam diante de uma cidade nua e inédita... Foi então dar uma volta no parque da cidade, imaginando que, talvez, pudesse encontrar o Eduardo e a Mônica...

Numa cidade sem esquinas, também acontecem grandes encontros. Ela encontrou-se com uma cidade inteira e sua gente. Ela sabe que a cidade tem pressa, mas não ultrapassa os limites de velocidade. Controlada por radar, num ritmo próprio, ela viu uma Brasília que abriga uma cidade que vai além da Esplanada.

Nua e crua. Encantadora e pura! Gente de bem... Um paradoxo visto por outro ângulo. E, enquanto o sol se punha entre os prédios do Congresso Nacional, renascia nela, depois de muito tempo, a esperança de dias melhores...


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Thaís Palhares é belorizontina de nascença. Palhares de pai. Fernandes de mãe. Thaís de comum acordo. Jornalista por opção e por convicção. Escritora por paixão. Viva, por isso, incansável. Escreve aqui todas as sextas-feiras. Fale com ela: thaisgalak@gmail.com

 
 

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