19/06/07
Um pesadelo que nunca se tornou sonho

É irônico, e ao mesmo tempo extremamente desastroso, que os territórios palestinos estejam sendo palco de (mais) uma disputa sangrenta no ano em que se completam quatro décadas da Guerra dos Seis Dias. A querela atual acontece entre os partidos do Fatah, descendente das premissas de Yasser Arafat e da OLP, e o Hamas, o partido político que sustenta o terrorismo contra os israelenses judeus.

Digo “israelenses judeus” porque, desde a guerra citada, em 1967, os palestinos que vivem nos territórios ocupados tornaram-se israelenses. 20% dos habitantes do país são árabes, e as línguas oficiais de Israel são o hebraico e o árabe. Mas, afinal, o que é a Palestina? Certamente, ainda não é um país. Também não é um estado como temos no Brasil ou nos EUA, por exemplo, dentro de uma federação. A Palestina “são” territórios autônomos, formados, até o momento, pela Faixa de Gaza e a região da Cisjordânia. Um fica no extremo oeste do território israelense e ou outro, a leste. São, por assim dizer, extremamente separados fisicamente. A Autoridade Palestina, como também é conhecida, é uma organização semi-autônoma, que conseguiu se estabelecer devido aos esforços do Fatah, de Arafat, falecido em 2004. O partido reconheceu o Estado de Israel, conseguindo apoio internacional para sua causa.

Mas o Fatah e Arafat não foram os únicos a lutarem pela Palestina. O grupo Hamas, que não reconhece o Estado de Israel, tem o apoio de grande parte dos palestinos, principalmente nas áreas mais pobres e reprimidas pelo exército israelense, destacadamente a Faixa de Gaza. Em janeiro, com as eleições gerais da palestina, o Hamas foi levado, pelo voto direto, a ter a maioria parlamentar, deixando o Fatah com menor representação. As urnas mostraram a insatisfação dos palestinos com o partido moderado, alvo de muitas denúncias de corrupção e morosidade no processo de paz com Israel. Apesar disso, foi um resultado que não era o que os analistas internacionais esperavam. Ou, principalmente, torciam.

Balas árabes

E os meses passaram. E o Hamas buscou, com um golpe militar, assumir o controle da Faixa de Gaza, mostrando o quão é apegado a valores democráticos. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas (Fatah) se esforça para manter o controle de Gaza, e mandou congelar todas as contas do ex-primeiro ministro, Ismail Haniyeh. O Hamas, no entanto, sustenta que Haniyeh está no poder. E que eles representam a voz do povo palestino. Obviamente, isso tudo está ocorrendo debaixo de um banho de sangue. Mas, pela primeira vez em muitos anos, não há interferência judaica nesta carnificina. São balas árabes disparando contra alvos árabes.

Em 1967, o que existia de Palestina desapareceu pela mão forte do exército israelense. Em 2007, o que existe de Palestina pode desaparecer pelas mãos armadas dos próprios palestinos.


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Ivan Bomfim é jornalista, graduando em História e pós-graduando em Relações Internacionais. Busca compreender o mundo contemporâneo, mas sempre com um olho na História, afinal "o presente é o reflexo do passado". Fale com ele pelo email: ivanjornalista@yahoo.com.br

 

 
 

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