
28/08/07
"Num pó fala"
Sábado, 25 de agosto
de 2007. À tarde. A Polícia Militar divulga
uma ocorrência no site cujo acesso é permitido
somente aos jornalistas. Há uma senha e tudo. Observem:
VEÍCULO ROUBADO LOCALIZADO
- São Domingos
Oc. 836027 25/08 14:12
LOCAL: ESTRADA DO CERCADINHO 2667
SAO DOMINGOS - BH
Militares do 5 BPM abordaram um motoqueiro no local, constatando
que a moto Titan placa GSS7046 era furtada e estava com
FREDERICO HERCULES DO CARMO, que é Policial Civil.
Uma equipe da Puma está acompanhando o fato. Contato
PM xxxxxx.
As informações sobre ocorrências
policiais constantes desta sinópse são preliminares
e carecem de apuração complementar pelos profissionais
de imprensa.
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL -
SALA DE IMPRENSA - Rua da Bahia, 2115 Funcionários
Fone: 3239 2607 - Fax: 3239 2615 E-mail:imprensa@pmmg.mg.gov.br
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O repórter imprime os dados, ajeita o gravador, aciona
o motorista e vai até o Departamento de Investigações,
conhecido como DI, localizado no bairro Lagoinha, região
noroeste de Belo Horizonte. A unidade é uma das mais
importantes da Polícia Civil e a ela estão
subordinadas Divisões como: Divisão de Crimes
Contra a Vida, Divisão de Tóxicos, Degrel
- Delegacia de Enfrentamento ao Grande Roubo e Latrocínio,
Deom - Divisão de Orientação a Menores,
Divisão de Desaparecidos. Aos finais de semana, a
polícia militar encaminha a maioria das ocorrências
para o plantão do DI.
E foi o que aconteceu com a
ocorrência 836.027 registrada por militares do 5º
batalhão da PM. O detalhe: um policial civil foi
preso suspeito de roubar a moto titan verde placa GSS 7046.
O crime aconteceu na última sexta-feira (24/08/07)
no bairro Lindéia, região do Barreiro. O proprietário
da moto estava em um bar, jogando sinuca, quando, de repente,
o policial civil chega, apresenta a carteira de polícia
e exige que o jovem entregue a moto. "Ele esfregou
a carteira no meu rosto e, de modo grosseiro e ameaçador,
exigiu que eu entregasse a moto porque precisava resolver
um problema. Horas depois, me ligou várias vezes
pedindo dinheiro para devolver o meu instrumento de trabalho
", afirmou o dono do veículo. Isso mesmo, tomou
a moto do rapaz à base de carteirada e ainda tentou
extorquir a vítima. Prefiro não identificar
o motoqueiro para que não sofra nenhum tipo de perseguição
ou represália.
Até aí, quase
nenhuma novidade, já que alguns homens (e mulheres)
mancham o nome da(s) corporação(ões)
quando cometem "alguns desvios". O repórter,
munido destes dados, segue para o Departamento de Investigações.
Ao chegar à delegacia, encontra alguns colegas de
trabalho. Outros jornalistas estavam entrevistando o policial
militar que efetuou a prisão do suspeito. De repente,
o colega pergunta qual o nome do PC. Sem quê nem pra
quê o PM responde:
- Ele é policial civil e o delegado pediu para não
divulgar".
Hora essa, o sangue subiu a
cabeça:
- Como assim não vão divulgar"? Quando
é bandido comum vocês não escracham?
Agora, porque é "bandido polícia"
vão preservar a identidade do meliante? Não!
Vamos falar sim. O nome está aqui: Frederico Hércules
do Carmo e eu vou divulgar sim! A sociedade tem o direito
de saber.
E quando eu falo que repórter
de polícia sofre demais, ninguém acredita.
Um outro policial civil, não sei se é detetive
ou inspetor, pareceu não ter gostado muito e começou
a coagir o repórter: anotou os dados - nome e veículo
que o jornalista atuava.
Importante ressaltar que, quem não tem rabo preso
não deixa de fazer o trabalho completo. A notícia
foi ao ar, com quaaaaaaaaase todos os detalhes. Só
faltou a resposta da polícia civil e como não
veio a tempo...
NOTA: "A reportagem
entrou em contato com a Polícia Civil e, de acordo
com a Assessoria de Comunicação da Corporação,
por enquanto ninguém vai se pronunciar, porque, até
o fechamento desta matéria, o Delegado de Plantão
não havia recebido a ocorrência".
Detalhe: Segundo o policial militar que prendeu o policial
civil, suspeito de roubar moto a base de carteirada e exigir
resgate, o PC é detetive lotado na C-O-R-R-E-G-E-D-O-R-I-A
e está afastado do trabalho por problemas de saúde.
Para quem não sabe, a Corregedoria é o órgão
responsável em investigar e punir policiais apontados
como criminosos.
Então...
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Camila
Dias é jornalista poilicial, pós-graduanda
em Criminologia pela UFMG. Escreve aqui toda terça-feira.
Fale com ela: camilajrn@yahoo.com.br
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