
14/08/07
O errado tem chances de dar certo,
se for bem feito
Primo Basílio. O filme
é baseado no romance de Eça de Queirós
e dirigido por Daniel Filho. Apesar de não entender
bulhufas de cinema, tomei a liberdade de me atrever a escrever
sobre a obra, afinal de contas, até meados do século
passado (1958), traição era crime –
crime contra a honra. E depois, assassinato também
é crime. Quanto à chantagem, paira a dúvida.
O tal do Basílio arrebentou a prima, literalmente,
em todos os sentidos. De cima pra baixo, de quatro, de lado,
em pé, deitado, etc. A “coitada” virou
até empregada doméstica de si mesma. De patroinha
à faxineira e lavadeira. O marido viaja para a construção
do que hoje chamamos de Brasília. Há quem
diga, casa de ladrões outros denominam casa de espetáculos.
O primo vai, instiga um sexo selvagem e depois, ainda manda
flores com cartõezinhos, é lógico.
A pobre Luiza, achando que está na Disney, recebe
e nem pra rasgar os bilhetes? Há certas coisas que
devem ser registradas na memória, e olhe lá.
Depois a mulher usa o sofá da própria casa
para cometer ilicitudes. Tinha que dá nisso.
Empregadas são confiáveis? Depende. Se a patroa
for atrevida, mal educada e soberba, as chances da serviçal
trair e chantagear, são muitas. A empregada se achava
muito esperta e no fundo, era. Pelo menos era mais que Luiza,
a prima de Basílio. Chantageou e morreu. Pobre Tião.
Matou para proteger o amigo da cornitude. E não foi
preso por crime de homicídio... A impunidade é
antiga nesse país.
O pior de tudo é que a polícia se apresentou
um tanto quanto “diferente”, parece que a corrupção
policial também não é novidade. A morte
da empregada fica no ar – semelhante aos crimes ocorridos
aqui, em Belo Horizonte. A delegacia de homicídios
da capital mineira está entupida de inquéritos
sem solução. Há quem diga que são
mais de cinco mil famílias que esperam uma resposta
para a morte de seus filhos, pais, mães, filhas,
etc. E quando a imprensa pergunta sobre números exatos,
vem a resposta: “Não temos dados atualizados”.
Outra coisa: quem vai se preocupar em investigar a morte
de uma empregada doméstica? Ainda mais quando a suspeita
é de um simples atropelamento? A explicação
pode estar no fato de que, em 1958, não havia crimes
de trânsito. Já o adultério...
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Camila
Dias é jornalista poilicial, pós-graduanda
em Crimologia pela UFMG. Escreve aqui toda terça-feira.
Fale com ela: camilajrn@yahoo.com.br
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