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Quarta-feira - 25/04/07
Com os dedos no gatilho
A máquina de fazer ilusões parou para homenagear os 33 mortos do massacre da Universidade Tecnológica da Virgínia, nos EUA. Professores, familiares e estudantes representaram as vítimas em um semicírculo com 33 pedras, incluindo a do assassino, que se matou após o atentado. Horrorizados, os alunos voltaram para as salas de aula esta semana. Percorrer os mesmos caminhos de sangue deixados pelo sul-coreano Cho Seung-Hui, não deve ter sido nada fácil para os 26 mil alunos da universidade.
O que nunca se saberá ao certo é que motivo levou este jovem a cometer tal atitude. A quem ele se referia enquanto dizia, olhando direto para a câmera, “vocês vandalizaram meu coração, rasgaram minha alma e queimaram minha consciência”? Foi tudo tão premeditado que ele enviou para uma emissora jornalística mais de 20 fitas de vídeo em que aparecia com armas e dizia atrocidades. Num dos trechos gravados Cho desabafou: “vocês achavam que era um garoto patético que vocês estavam extinguindo... Seus colares de ouro não eram suficientes, seus esnobes? Seus fundos de investimento não foram suficientes?”
Que os EUA não são “flor que se cheire”, todos sabem. Mas o que leva um jovem a matar a sangue-frio dezenas de pessoas, que ele devia cruzar pelos corredores todos os dias? O que será que se passou pela cabeça do digníssimo presidente George W. Bush ao assistir cenas parecidas com as atrocidades provocadas, por intermédio dele, no Iraque, em que morreram centenas de pessoas? Talvez esse atentado na universidade da Virgínia tenha sido algo “normal” para ele, afinal de contas, comprar armas nos EUA é mais fácil que vender balas nos sinais de trânsito brasileiros!
Pela sua tão voluptuosa ganância, os EUA atraíram para si a ira do mundo. Isso ninguém pode negar. Mas eles estão apenas colhendo o que plantaram. Eles lamentaram o 11 de setembro, mas não choraram com Hiroshima e Nagasaki. Eles se assustaram com Columbine, mas foram esses jovens que eles próprios produziram. Eles não se importam se estão contribuindo muito para o fim do mundo, por não diminuírem as emissões de gases poluentes. Eles se importam em ser “primeiro-mundo”, em ter o poder, em ter dinheiro, luxo, fortunas. Não se importam se estão consolidando uma sociedade fria, calculista e repleta de obesos vítimas dos fast-food. Querem “ter” a ter que “ser”.
A família de Cho pediu desculpas, disse que ele era um rapaz tranqüilo, que não imaginavam que ele fosse capaz de ferir alguém. Mas desculpas não adiantam quando não se há mais o que fazer. Onde será que eles erraram? Ou melhor, onde será que ele se perdeu?
E a pergunta continua: o que será que ele estava pensando no momento em que apertava o gatilho? O que se sabe é que enquanto ele atirava podia se ouvir repetidamente por toda universidade: “atirador no campus, não saiam ao ar livre, fiquem longe das janelas.” O problema de viver em uma sociedade em que as armas são muito bem aceitas, é que um dia elas podem estar apontadas para seus próprios familiares.
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Patrícia Caldas é uma carioca que ama Belo Horizonte, mas não abre mão das lindas praias da cidade maravilhosa. Sua alegria está em escrever e gritar para os quatro cantos do mundo suas verdades. Além de ter esperanças de um mundo melhor, ser irônica e perspicaz, é jornalista. Escreve todas as quartas-feiras na coluna Diz Tudo. E-mail: p.jornalista@gmail.com |
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