11/05/07
Simplesmente amor...

Hoje resolvi falar de amor. Mas não vá achando que vou escrever um roteiro, tal qual livro de auto-ajuda ou coisa do gênero. Mesmo porque amor não é algo que se ensine, mas que se aprende. Sozinho. Amor não é uma “coisa” que você adquire mais quantidade, como um produto:

– Aqui, por favor, me dá um quilo de amor.

Nada disso. Amor se adquire, quando menos você espera está amando. E às vezes, meio sem querer, você é obrigado a deixar de amar, mas não consegue. Nisso esse sentimento é um tanto quanto injusto, afinal, você começa a amar sem querer e, quando deseja não tê-lo mais, não consegue. Exatamente porque o amor não é uma roupa que você deixa no canto e nunca mais pega. Ele está com você. Assim, afastar da pessoa amada pode ser uma boa saída, mas nem sempre a solução.

Nesse pouco tempo de vida aprendi algumas coisas, a maioria delas em momentos difíceis: é interessante ressaltar que o amor de mãe e filho ou entre irmãos é diferente de um amor de homem e mulher. Um irmão ou um filho pode discutir, brigar, mas mesmo estando errados a família há de perdoar. Mesmo porque, a gente pode separar da esposa, da namorada, mas não há como separar da família. Ou talvez a gente acabe separando de uma companheira, afinal aquele não é seu verdadeiro amor. Bem, se é que existe isso.

Lembro-me ainda bem novo, assistindo a Meu primeiro amor. Filme inocente que mostro o amor de uma garotinha pelo amiguinho. Mesmo sem saber ela já amava e depois, quando era impossível dar seqüência com aquele sentimento, não consegue tira-lo do seu coração. Uma linda história de amor, inocente, singelo, assim como duas crianças.

Cresci e com isso veio Almodóvar, Mike Nichols, Alain Resnais, Michel Gondry, Zhang Yimou, Walter Salles, Ferzan Ozpetek, entre outros. Ozpeteck e seu sublime Um amor quase perfeito. Confesso que até pouco tempo não conhecia esse filme, que faz o espectador repensar inúmeras atitudes em relação ao outro. Assim como Almodóvar, o diretor italiano é incapaz de julgar qualquer um daqueles personagens e mesmo diante as supostas adversidades ele apenas narra os fato e dá aquela gente voz como qualquer outro.

Já David Lean em Desencanto aborda duas questões que são fundamentais a discussão. A primeira: o amor também pode ser muito cruel e mostra que Laura Jesson, mesmo estando feliz com o novo relacionamento, se sente amargurada e, às vezes, arrependida, pela traição ao marido. De fato traição é um ponto negativo em um relacionamento, mas apenas as pessoas que se arrependem desse ato é que realmente vão sofrer, no entanto, quem já faz isso rotineiramente passa a tratar esse fato como normal.

O segundo aspecto a ser problematizado é que não se pode dar chance ao acaso. No filme Laura é uma mulher casada, com dois filhos e mesmo sem a intenção de trair o marido acaba por fazer, talvez por não querer ser mal educada ou mesmo pela dificuldade em dizer “não”. Bem, vamos à sinopse para explicar melhor: Laura tem o hábito de ir à outra cidade todas as quintas-feiras para, entre outros afazeres, almoçar e ir ao cinema. Numa dessas viagens o médico Alec vê a mulher sofrendo por ter um cisco no olho e oferece ajuda. Já na próxima semana os dois almoçam juntos e sem graça em rejeitar a companhia do médico vão também ao cinema. Depois disso, eles passam a se encontrar com mais freqüência e acabam se apaixonando.

Um relacionamento é mais ou menos um compromisso que uma pessoa possui com outra e mesmo tendo inúmeras pessoas interessantes ao seu redor, às vezes até mais que o próprio parceiro esse compromisso não deve ser quebrado para não magoar a pessoa com quem convive. Aliás, é muito fácil você se relacionar com mais uma, duas, três pessoas, mas não gostaria de ver seu parceiro com outra (o). Nesse caso, também surge uma nova questão: quando uma mulher é gentil com um homem nem sempre ela quer algum tipo de relacionamento, a não ser amizade, com ele. Já o contrário, quase em 100% das vezes o homem pensa numa segunda intenção. Tenho orgulho em dizer que não faço parte dessa porcentagem.

Outro filme que aborda de forma interessante esse mesmo tema, a traição, é Closer. Aliás, não só traição, mas as complexidades em lidar com outro indivíduo, afinal nesse Mundo contemporâneo (e maluco) as pessoas estão cada vez mais incertas, insatisfeitas e solitárias. A partir daí surge pessoas/personagens como os de Natalie Portman, Jude Law, Julia Roberts e Clive Owen, que se relacionam entre si, mas não encontram a felicidade, pois não conseguem relacionar com eles mesmos. Talvez passe um pouco por essa certeza do ser humano de perfeição e querer sempre acertar em tudo. Nós não sabemos lidar com o imprevisto e quando algo sai errado temos dificuldade em lidar com isso. Aliás, já dizia Carlos Drummond de Andrade no poema Quadrilha:

“João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.”

Acredito que tudo se simplificaria se levássemos a vida como Amélie. A Amélie de O fabuloso destino de Amélie Poulain. Os menos sensíveis vão dizer que esse filme nada tem a ver com o amor, já eu acho que o amor está em sua aura. A partir do momento que deixarmos de nos preocupar tanto e darmos valor as coisas simples da vida como observar o olhar das pessoas numa sessão de cinema ou enfiar a mão num saco de sementes, talvez a vida comece a melhorar e o amor fique mais fácil. Como no caso da protagonista, que vive um amor adolescente, cheio de dúvidas, mas feliz, e é isso que importa. Mais um detalhe: a trilha sonora. Quem dera poder viver tendo ao fundo uma melodia maravilhosa como essa. Com certeza tudo ficaria mais fácil. Como diz um ex-professor e amigo: “todas as mulheres, sem exceção, e os homens inteligentes gostam de O fabuloso destino de Amélie Poulain”. Concordo com ele.


Veja o vídeo de Amélie Poulan. Clique aqui. >>


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João Paulo Teixeira é jornalista, continuísta, admirador e estudioso de cinema, pós-graduando em “História da Cultura e Arte”, não necessariamente nessa ordem. Já participou de 20 filmes, sendo 19 curtas (18 como continuísta e um como diretor) e um longa como assistente de figurino e produção. Acredita que a continuidade é responsável direta pelo olhar mais crítico para o fazer e analisar obras cinematográficas. Além disso, é colaborador da peça Atrás dos Olhos das Meninas sérias, com estréia em março. É redator da coluna TRAVELLING no site Filmes Polvo (www.filmespolvo.com.br). Escreve todas as sextas-feiras. E-mail: jpteixeiras@gmail.com

 
 

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