27/04/07
A Vida Como Ela É

Pessoas escondem os objetos valiosos contidos em seus corpos, fazem de tudo para disfarçar o poder inserido por elas, tentam, ao máximo, passarem despercebidas. É, parece que finalmente perceberam que a violência existe. Ela está aí, está aqui e está cada dia mais próxima. E essa proximidade assusta cada dia mais as pessoas que realmente tem o poder.

Diferente dessa realidade, vivida pelos burgueses, estão as pessoas do morro, retratada no documentário Falcão: os meninos do tráfico. Nele MV Bill mostra a realidade contida nas favelas brasileiras, em que a média de idade dos participantes do tráfico de drogas é de 17 anos. Como lidar com crianças e jovens que afirmam conscientemente que esperam apenas três destinos para eles: cadeia, morte ou cadeira de rodas? Como lidar com esses moradores que observam na rua pessoas caminhando com bolsas de R$18 mil, e eles sem dinheiro para o filho que se encontra doente em casa? Como lidar com pessoas que ouvem “muito difícil viver sem minhas marcas”, enquanto eles próprios dizem, “quero ser bandido quando crescer”? Com violência. E é isso que acontece. O engraçado é que as pessoas que possuem esse tal poder se defendem com ainda mais poder. E a polícia, que na teoria é a inibidora dessa violência, também a usa como artifício.

Mas não é de hoje que o cinema retrata esse assunto. Stanley Kubrick, em 1971, fez Laranja Mecânica. Um filme inovador, em que o diretor mostra todo o lado sujo contido no ser humano e que trouxe a violência mais próxima dos personagens e do público. Talvez por isso, na época o diretor foi condenado. O público não acreditava que aquilo realmente existisse, e preferia achar que era “coisa de cinema”. Com o tempo perceberam que aquilo não só existe como a cada dia o filme se torna mais atual e condizente com a realidade.

Apesar de não ser com a mesma maestria de Kubrick, outros diretores também retrataram a violência nas telonas. E às vezes foram bastante criticados por isso. É o caso de Michael Haneke, com Violência Gratuita e Gaspar Nóe, com Irreversível. Claro, não é de assustar se o espectador sentir-se incomodado durante e após a sessão, muito pelo contrário, é o que se espera. Os dois mostram uma violência muito próxima e de uma forma nem sempre vista no cinema. Nóe, por exemplo, mostra uma pessoa sendo assassinada com pancadas de um extintor de incêndio, além de uma cena de nove minutos de estupro. Realmente desconfortável. Mas temos duas opções para isso: conhecer e tentar, de alguma forma, melhorar os fatos, ou apenas ignorar e deixar as coisas como estão. Eu, com certeza, prefiro a primeira.



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João Paulo Teixeira é jornalista, continuísta, admirador e estudioso de cinema, pós-graduando em “História da Cultura e Arte”, não necessariamente nessa ordem. Já participou de 20 filmes, sendo 19 curtas (18 como continuísta e um como diretor) e um longa como assistente de figurino e produção. Acredita que a continuidade é responsável direta pelo olhar mais crítico para o fazer e analisar obras cinematográficas. Além disso, é colaborador da peça Atrás dos Olhos das Meninas sérias, com estréia em março. É redator da coluna TRAVELLING no site Filmes Polvo (www.filmespolvo.com.br). Escreve todas as sextas-feiras. E-mail: jpteixeiras@gmail.com

 
 

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