
06/09/07
A moda azeri
Depois de passado o susto do
desastre ocorrido aqui em Baku na semana passada, quero
levar até os leitores um assunto que pouco se discute
por aqui, mas que, bem devagar, se apresenta pelas principais
ruas de Baku: a moda. Como disse há alguns dias,
as mulheres estão dando início a uma quebra
de valores e do radicalismo ao deixarem seus mantos de lado
e mostrarem o seu corpo, mesmo que ainda exista aquelas
que mantêm suas curvas totalmente cobertas, por uma
burca ou um manto.
Elas se mostram cada dia mais
interessadas pelas tendencias da moda internacional, fora
das barreiras do país. A intenção é
válida, mas a maioria nao faz idéia de como
acertar na hora de combinar as peças dos vestuário.
Vale a idéia de sincronia de cores. O lema é
tudo combinado. Os modelitos são inusitados: sapatos
vermelhos com bolsas vermelhas, e é claro, com um
vestido vermelho. A moda azeri, se é que ela existe,
parece levar todas as mulheres para uma grande festa de
São João, com vestidos de bolinha e babadinhos
(eu acho lindo). Mas há lugar para as ousadas. Mini-saias
e os shortinhos causam muita polêmica. Quando saio
para meus passeios com meu tenis no pé, chamo atenção.
Todas já sabem que sou estrangeira. Minhas amigas
azeris estranham. Até eu estranho. Depois que vim
para Baku, meu modo de vestir também entrou em crise.
Sou metade brasileira e metade
azerina. No Brasil, não nego, não tirava o
salto do pé. Todos os tipos e tamanhos, preferência
para os mais extravagantes que me levaram a uma tese feminina:
uma mulher de salto deixa de ser mulher e passa a ser um
mulherão (risos).Mas no Azerbaijão
as coisas não são bem assim. Se minhas brasileiras,
que devem estar lendo este texto, me encontrassem nas ruas
de Baku, certamente não me reconheceriam. Imaginem
meu tênis como principal componente do meu novo vestuário,
trocado, as vezes, pelas sandálias rasteirinhas.
Eu sei: meu novo estilo indefinido nada me atrai...
Sobre maquiagem
Antes colada na cara, nao faço mais tanta questão.
Já as azeris saem como se fossem para um grande baile
em plena manhã. Ainda sou fresca, confesso, mas meu
guarda-roupa mudou de endereço. Não dá
para andar de salto em Baku. Ruas de calçamento atentam
contra a elegância feminina. Um passo e duas viradas
de pé, daquelas que nós odiamos. E, sinceramente,
prefiro não pagar esse mico. Melhor ser uma simples
despercebida estrangeira no meio da multidão. Nas
ruas, eu, meu esposo e meu poodle já somos motivos
suficientes para fotos e conversinhas ... que nem sempre
entendo...
Agora é a vez
dos homens Como muitos já sabem sou esposa
de um jogador de futebol. Fábio é um tipico
brasileiro: Ama o calor e anda pelas ruas de chinelos e
bermuda. Motivos para fotos não faltam. Quando ele
morou no interior do Azerbaijão, onde a temperatura
normal era de 45 graus, chegou a ser advertido por sair
de bermudas para ir ao mercadinho.
Eles, em contrapartida, estão
mais enraizados no tradicionalismo. Em pleno verão,
com temperaturas médias entre 42 graus com o sol
brilhando até as 9 horas da noite, nunca vi um azeri
de bermuda. A moda masculina são calças compridas
com chinelos de dedos, e camisas, discretamente, regatas.
Pernas masculinas estão, definitivamente, proibidas
de estarem à mostra.
Outra coisa comum nos homens é o cigarro. Desde a
adolescência já se iniciam nesse hábito
nocivo. Não há advertência quanto à
idade que os homens podem iniciar com o cigarro, vendido
sem nenhum controle. As mulheres não podem fumar
em público. Mas os restaurantes estão repletas
de figuras femininas que também adotaram o estilo
fumante de ser. Apesar de detestar o cheiro, a fumaça
e o mal que o cigarro traz, ainda assim, ao contrário
dos homens, as mulheres azeris demonstram qualidades que
revelam a força e independência feminina, principalmente
em relação ao modo de se vestirem. A moda
aqui revela, além das curvas, a luta contra o fundamentalismo
da religião.
Semana que vem quero apresentar
mais paixões nacionais. Além do fumo, estão
em destaque na cultura azeri, o chá e o pão.
Chefs do Brasil, preparem o livro de receitas para
conhecerem um pouco da culinária azeri.
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- Direto do Azerbaijão. Conhece?
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Aline
Orlando Ramim, é paulista, casada, brasileira,
e nao desiste disto. Sonhadora, vive atualmente em Baku,
logo ali no Azerbaijão, na região da antiga
União Soviética onde está conhecendo
e vivendo coisas que jamais imaginaria. Aline é curiosa
ao extremo, mas não é egoísta, por
isso compartilha suas curiosidades todas as quintas-feiras
aqui.
Fale com ela: alineorlando@hotmail.com
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