14/09/07
Azar o meu
Há duas semanas não
escrevo aqui. Chamem do que quiser: falta de
profissionalismo, preguiça, ou sei lá o que.
Se couber alguma
justificativa, parto em minha defesa: fui engolida por um
mundo de
coisas muito maior que eu; minhas mãos se ocuparam
de reerguer paredes
depois da tempestade pessoal. Certo, o problema é
meu e ninguém tem
nada com isso, mas o fato é que escrevo com alguns
calos nos dedos,
ainda. Sobrevivi e cá estou.
No fundo, ou no raso, é bem provável que ninguém
tenha notado a minha
ausência, ou pelo menos é o que parece. Pensei
então, em encerrar essa
coluna. Perspectiva? Ora! Estou querendo enganar quem? Aqui,
somos só
eu e minhas palavras. Reflexos e opiniões de um mundo
limitado (o meu)
que lhes transcrevo. Guardada em meu silêncio, preciso,
em face os últimos acontecimentos, gritar, esgoelar,
berrar que não sou insensível. Vou ficar sem
voz, eu sei. Mas a indignação me bateu na
cara, e está doendo, muito!
Assisti passiva, durante meses, o desenrolar de uma crise
que parecia
não ter fim: RENAN CALHEIROS. No início, voltei
minhas atenções para o
escândalo em que o presidente do senado (em minúsculo
mesmo) era
acusado de ter despesas pessoais pagas por um funcionário
da Mendes
Júnior. Com toque de Gilberto Braga, a trama tinha,
ainda, a tal da
Mônica (sempre ela!) e as vacas superfaturadas (redundância?!).
Mas,
como a coisa não chovia nem molhava, fui me ocupar
do meu próprio
umbigo gordo.
Eis, pois, que o fim se aproximou e lá fui eu, de
novo, atenta aos
detalhes e nuances dos últimos capítulos.
Meu coração se encheu de
esperança com a votação dos deputados.
Agora só faltavam os senadores. Na minha ingenuidade,
pensei que, mesmo com o voto secreto, esses
seres teriam um compromisso com o próprio caráter,
visto que terão de
se olhar no espelho pelo resto de suas vidas. Mas, protegidos
pelo
voto secreto, compactuaram abertamente com a corrupção.
É fato que esse a absolvição de Renan
Calheiros traz implicações
políticas. A imagem do congresso (minúsculo,
de novo) no geral e do
senado (menos ainda, se possível) está ainda
mais desgastada. A coisa
tá tão doida que até aquela idéia
sem cabimento do presidente do PT,
Ricardo Berzoini, de extinção do senado, pode
ganhar espaço na mídia.
Não quero pensar por nenhum lado positivo. Mesmo
sabendo que o digníssimo presidente da casa sai enfraquecido
da votação, já que 35 senadores em
81 acreditam que ele não tem envergadura moral para
continuar no cargo. Não consigo pensar positivo porque
esses filhosdaputa foram eleitos para representar o povo,
votar pelo povo, decidir pelo povo e o que eu vi, foi uma
luta desonesta e em causa própria.
Estou, mais uma vez, descrente e, do alto da minha incapacidade,
vou gritar, esgoelar, berrar, até perder a voz, mesmo
sabendo que não faz a menor diferença. Estou
em choque, sem fome, enjoada de pizza. Estou de volta, quase
que sem voz, mas ainda uma voz. Estou de volta, azar o meu.
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Thaís
Palhares é
belorizontina de nascença. Palhares de pai. Fernandes
de mãe. Thaís de comum acordo. Jornalista
por opção e por convicção. Escritora
por paixão. Viva, por isso, incansável. Escreve
aqui todas as sextas-feiras. Fale com ela: thaisgalak@gmail.com
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