As belas instalações esportivas e demais gastos com o evento superaram a casa dos R$ 3,7 bilhões. Isso, certamente, manchará a boa imagem dos últimos dias
 


Quarta-feira - 01/08/07
Depois da euforia, a realidade que arde

Sempre fui intolerante com o ufanismo. Sobretudo por parte da Rede Globo e outros veículos de comunicação do país quando da abordagem de certas questões com demasiado patriotismo. Falo em especial de disputas nas quais diversas nações se confrontam no esporte: Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Pan-americanos.

Mas nas últimas semanas, fiz uma reflexão quanto aos meus princípios. Confesso que fiquei emocionado com alguns dos nossos heróis do esporte no PAN Rio 2007. Como não se sensibilizar com a história de Yane Marques, ouro no pentatlo moderno, cuja mãe precisou vender milhares de salgadinhos caseiros para poder sair de Pernambuco e assistir a filha competir? Como não ficar com os olhos marejados ao ver um boxeador que era pedreiro até outro dia vencer um campeão do mundo e levar um ouro no esporte que o Brasil não vencia há 44 anos?

São vários os casos de trajetória de vida dramática entre nossos campeões pan-americanos. Mas um assunto pouco explorado pela mídia antes da competição, até por razões óbvias, virá à tona nos próximos dias: o gasto do governo com a competição. Não sei ao certo, mas a previsão inicial foi multiplicada algumas vezes. As belas instalações esportivas e demais gastos com o evento superaram a casa dos R$ 3,7 bilhões. Isso, certamente, manchará a boa imagem dos últimos dias. Quer dizer, depende de que tratamento será dado pela imprensa.

Neste momento, já começam a ser articuladas as famigeradas CPI’s, e em três níveis: municipal, estadual e federal. Tudo com o objetivo de saber para aonde foi tanto dinheiro. Cá pra nós, já sabemos o destino de boa parte desse montante, a começar por obras, de certo, superfaturadas. O que me entristece é o que já tive oportunidade de dizer aqui. Se, ao menos, as Comissões Parlamentares de Inquérito resolvessem alguma coisa... Certamente, veremos o de sempre, ou seja, políticos fazendo palanque (ano que vem tem eleição), pessoas sendo investigadas, processadas, mas sem condenação. Além de termos que gastar mais um pouco de dinheiro público com algo que não vai dar em nada.

A cada dia, confirmo uma opinião de que só teremos mudança no país se esta passar pelas mãos do povo. Só quando nós pararmos de assinar procuração para que um pequeno grupo decida a seu bel prazer o que é bom ou ruim para quase 200 milhões de pessoas. Sonho distante esse, já que o povo sufoca seus instintos na inércia. Ficamos só nada vontade, que, via de regra, é passageira.


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Orozimbo Souza Júnior é jornalista, assessor de imprensa e pós-graduando em Comunicação Política. Escreve todas as quartas-feiras. E-mail: souzajunior1@yahoo.com.



   
 
 

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