
08/08/07 -Quarta-feira
Glauber Rocha
Crítico, espírito revolucionário
e uma cabeça marginal
A frase "Caminhando e
cantando e seuindo a canção, somos todos iguais,
braços dados ou não... vem vamos embora que
esperar não é saber, quem sabe faz a hora
não espera acontecer..." de Geraldo Vandré
ecoava pelas bocas joviais do país que lutavam pela
liberdade de expressão. Alguns anos antes, Glauber
Pedro de Andrade Rocha, um ativista contra o governo depois
do golpe de 1964, era preso em um protesto contra o Regime
Militar no Rio de Janeiro.
Suas atitudes eram vigiadas
por militares brasileiros e até mesmo estrangeiros,
dizendo ser " executor das diretivas partidárias
do PC, no setor cinematográfico" de acordo com
um informe do Cenimar, de 21 de setembro de 1966. Era considerado
comunista junto aos outros cineastas "subversivos"
Carlos Diegues, Leon Hirsman, Ruy Guerra e Davi Neves, entre
outros, como diziam os militares.
Glauber é o exemplo
de um diretor que critica e revê valores, tem um espírito
revolucionário e uma cabeça marginal. Pertecente
ao grupo de pessoas frustadas com a falência dos grandes
estúdios paulistas, resolveram elaborar novos ideais
ao cinema brasileiro. O que queriam era a produção
de um filme barato e que colocassem em foco a situação
politico-social e a realidade do país, começando
pelo nordeste e todos os seus problemas.
Lançou então
"Deus e o Diabo na Terra do Sol" de 1964. Este
filme estreou pouco antes do Golpe Militar de março
de 64. Apesar de não ganhar prêmios em Cannes,
representou o Brasil e fez com que a crítica e os
cineastas aclamassem o seu trabalho. O filme menciona o
cangaço e tem como elemento marcante as cores fortes
do sertão além do silêncio ocorrido
nas cenas.
Em 1967 realiza o longa-metragem
"Terra em Transe". O filme foi proibido no Brasil
e se tornou o manifesto de uma geração.
Glauber Rocha, um dos ícones
do cinema novo, tinha como objetivo mostrar a realidade
do Brasil, o sertão, a fome ou seja denunciar as
injustiças sociais. O Cinema Novo pode ser dividido
em 3 fases. A primeira fase vai de 60 a 64, e abordava o
cotidiano e a mitologia do nordeste brasileiro. O núcleo
de cineastas mais reconhecidos na época era Nelson
Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Diegues,
Paulo César Saraceni, Leon Hirsman, David Neves,
Ruy Guerra, Luiz Carlos Barreto e Glauber Rocha, que foi
o mais relembrado dos cineastas do Cinema Novo. A frase
“ Uma câmera na mão e uma idéia
na cabeça” de Glauber Rocha virou um lema entre
os cineastas da época que faziam parte do Cinema
Novo.
A segunda fase do Cinema Novo
vai de 64 a 68 e abordava os equívocos da ditadura
militar e da política. Filmes como O Desafio (1965),
de Paulo Cezar Saraceni, O Bravo Guerreiro (1968 ), de Gustavo
Dahl e Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha, foram os
mais marcantes desta fase.
A terceira fase do Cinema Novo
vai de 1968 a 1972 e tem como maior influência o tropicalismo,
com as características do exotismo brasileiro, mostrando
plantas, animais e índios como no filme Macunaíma,
de 1969 “O brasileiro preguiçoso e fanfarrão
sensual e depravado, que luta para ganhar dinheiro sem trabalhar”.
Mas essa terceira fase foi interrompida pela repressão
política, fazendo com que alguns dos cineastas se
exilassem, extinguindo assim o Cinema Novo.
Glauber é importante
para o cinema porque mostrou todo o potencial do Cinema
Novo e mostrou que o Brasil é capaz de produzir um
filme de forma a ser aceito internacionalmente, sem perder
a característica brasileira, a realidade e os problemas
que não eram percebidos ou relevados. É tão
importante que até hoje podemos ver influências
do Cinema Novo nos filmes que tratam da Favela, Sertão
e do Lado B do Brasil.
Filmografia Glauber Rocha
1962 - Barravento
1964 - Deus e o Diabo na Terra do Sol
1967 - Terra em Transe
1968 - 1968
1969 - O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro
1970 - O Leão de 7 Cabeças
1971 - Cabeças Cortadas
1972 - Câncer
1973 - Históri do Brasil
1975 - Claro
1977 - Di Cavalcanti
1979 - Jorjamado no Cinema
1980 - A Idade da Terra
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Bruno Grossi é mineiro nascido em
1979. Poeta, videomaker e artista. Teve poemas publicados
no Brasil e do Exterior. Recebeu prêmio e participou
de festivais com seus trabalhos de vídeo-arte. Lançou
em 2007 seu primeiro livro de poemas "O Grão
Imastigável". Está preparando sua primeira
exposição com a série "FRAGMENTOS".
Fale com ele:brunogrossi.arte@gmail.com
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