26/02/07 -07h25

Papa, Matisse e Mickey Mouse

Folheando uma Caros Amigos no consultório do dentista, li uma matéria muito interessante sobre o culto ao pop. O autor do texto fazia uma comparação entre a Disneylândia e o Centro Georges Pompidou como dois pólos de busca do pop pelas massas. A comparação me causou um certo espanto até o momento em que, já estando em casa, me deparei com a nova promoção da Caras. Não é que a revista das celebridades, no lugar dos costumeiros faqueiros, lançou uma coleção de réplicas de obras famosas? Na página de divulgação da novidade lia-se o slogan “As pinturas mais valiosas do mundo” e logo abaixo uma seqüência de obras e seus respectivos preços exorbitantes a que foram vendidas.

Voltando à questão colocada na Caros amigos, agora eu me pergunto: Serão Mickey Mouse e Matisse dois ícones do pop?

Essa história de se agregar valores unicamente econômicos às obras para chamar a atenção dos consumidores deste periódico não me espanta em nada. Afinal, as pinturas de Picasso ou Van Gogh já viraram produtos corriqueiros como um faqueiro ou um CD do Kenny G. Mas a pergunta que não quer calar é: por que diabos ando lendo Caros Amigos no consultório odontológico e Caras em casa?

E ainda falando em cultura pop, este ano, a conferencia nacional dos bispos do Brasil lançou sua campanha da fraternidade com o tema: Fraternidade e Amazônia. O estranho nisso tudo é que eu nunca tinha ouvida falar na tal campanha, embora ela seja anual. Confesso que não sou ligada a assuntos da instância religiosa, mas este ano, diferente dos outros – ao menos eu acredito ser – tal campanha está estampada nas revistas, jornais e internet... Coincidentemente, a questão ecológica está atolada na moda. E a Amazônia... Bem, a Amazônia foi recentemente coroada como rainha do pop brasileiro pelo império Rede Globo de televisões. Mas, atenção: qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

E o Papa, não muito pop por sinal, não poderia ficar de fora e deu o seu pronunciamento sobre a campanha dizendo que acha de extrema importância “a ação eclesial dirigida a fomentar um processo de ampla evangelização que estimule a missionariedade e crie condições favoráveis para a descoberta e o crescimento na fé de toda a população amazônica.” Alguém por favor avisa a vossa santidade que a Amazônia já não é mais uma terra povoada apenas por índios pagãos que necessitam urgentemente da fé católica?

Devido a minha ignorância em tais assuntos, pesquisei um pouco sobre esta campanha e descobri que se trata de um evento realizado no período da quaresma. É a lógica cristã da compensação. Todo mundo se afunda nos pecados do carnaval e depois têm a chance de se purificar nos 40 dias posteriores, deixando de comer carne e dando umas rezadinhas. E pensando assim, até que esse lema Fraternidade e Amazônia veio bem a calhar. Sujamos as praias, estragamos as matas, depredamos o meio ambiente naquela farofa carnavalesca e depois pedimos perdão e dedicamos nosso expurgo à mãe natureza aderindo à campanha da fraternidade. Tudo resolvido!

Então, nesta primeira segunda feira ressaqueada pós-carnaval, comecemos o ano com o pé direito! Afinal, como bons brasileiros que somos, sabemos que hoje é, de fato, o primeiro dia do ano tupiniquim. Reorganizem a agenda, resgatem as metas que traçaram para 2007 – sim, aquelas que serão esquecidas em menos de um mês - e boa quaresma!



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Lira Turrer é jornalista e escritora. Apaixonada pela literatura e inspirada pelos fatos corriqueiros que permeiam a comédia do cotidiano. Escreve aqui todas as segundas. Fale com ela: liratd@yahoo.com.br

 
 

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