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Por João Paulo Teixeira Mesmo durante a sessão de Babel, novo filme do mexicano Alejandro González Iñárritu, me incomodei com quão superficial os personagens são apresentados. Em apenas dez minutos já temos toda a trama completo. Um casal norte-americano, Susan e Richard, em uma visita ao Marrocos, são surpreendidos quando a mulher leva um tiro, acidental, de um garoto da região. Por conta disso, a doméstica mexicana responsável pelos filhos do casal nos Estados Unidos, na impossibilidade de não poder voltar ao seu país para o casamento do filho, vê como única maneira levar os garotos com ela. Em uma montagem paralela, narrando uma história intercalada com a outra, houve algumas criticas em relação à maneira como o filme foi realizado, por dizer estar bastante saturado, afinal, ultimamente tivemos inúmeras outras obras com essa narrativa, como Crash ou Magnólia. Contudo, cabe lembrar a esses críticos que os autores da obra são Alejandro González Iñárritu e Guillermo Arriaga, que já realizaram juntos dois filmes com essa mesma estrutura, Amores brutos e 21 gramas. Porém, ao contrário dos anteriores, no atual essa montagem não é bem realizada. Nos primeiros os acontecimentos soam mais “naturais”, ao passo que em Babel, hora e outra, parecem forçados demais. E, desta maneira, cenas que remontam a voz de Richard ao telefone conversando com a empregada ou os garotos marroquinos sendo vistos na televisão pelo policial japonês, surge como peças mal encaixadas. Além disso, “forçando novamente a barra” exageradamente, Iñarritu coloca Santiago como um dos personagens mais idiotas da história do cinema que, mesmo alcoolizado e sabendo que a tia estava ilegal nos Estados Unidos, tenta atravessar a fronteira. O que as quatro histórias têm em comum: o tiro levado pela norte-americana, Susan, já relatado acima. Mas, eu disse quatro? Sim, ainda falta relatar uma das histórias, a da japonesa Chieko e a maneira que encontraram para ela estar ligada à trama: seu pai era o dono da arma do tiro. História um tanto quanto forçada e sem interesse nenhum. A arma era do seu pai, e daí? Muito melhor que isso é a história da jovem isolada das outras. Chieko é uma surda-muda que tenta esquecer dos traumas obtidos no passado por causa do suicídio da mãe e coloca a culpa de todos os seus problemas no fato de ainda ser virgem. E a maneira como a japonesa é apresentada é bastante interessante, muito melhor que o tal tiro. Desde o figurino das japonesas, ou a falta deles, à maneira como Iñarritu monta trilha sonora em conjunto com um silêncio total nas subjetivas da garota, até a atuação excelente da jovem. Babel tem ainda mais alguns pontos positivos. Iñarritu dialoga bem com temas complexos como a globalização, a falta de comunicação entre as pessoas e com o poder dos norte-americanos. “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Já em seus filmes anteriores Iñarritu discute alguns temas, porém menores - não em importância, mas em amplitude. Se nesse novo ele se arrisca ao abordar novos universos temáticos, em Amores brutos e 21 gramas o diretor discute sobre religião, transplante de órgãos e até mesmo a exploração animal – como exemplo, as rinhas de cachorros. Arrisca porque nem sempre esse diálogo é bem realizado. E, dessa maneira, o diretor deixa claro sua posição contrária ao sistema capitalista norte-americano. Assim, ele constrói um México totalmente submisso e, “entrar no Paraíso”, como disse Santiago para as crianças, é fácil, o problema é voltar para a “América”. Aliás, é engraçado isso, até quando nós latinos seremos tão submissos ao, suposto poderio dos Estados Unidos? Curioso também lembrar da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), um acordo comercial idealizado pela terra do “Tio Sam” em que todos os países americanos (agora sim americanos), exceto Cuba, teriam suas barreiras comerciais derrubadas, além da isenção de tarifas alfandegárias. Até que ponto iremos chegar num Mundo em que fazemos acordos para que as mercadorias circulem livremente, enquanto as pessoas são proibidas de entrar no país em que viveram por 16 anos da sua vida? Com um quesito podemos ficar tranqüilos, não somos os únicos a agir dessa maneira. Um Marrocos sem asfalto, pobre, e que mesmo nessa situação dá toda autonomia aos gringos que lá fazem turismo. E se as autoridades desse país respeitam ao máximo esses estrangeiros, isso não acontece com os próprios marroquinos, que são humilhados, desrespeitados, mortos, sem sequer saber o que, de fato, aconteceu. Outro ponto que o diretor apresenta e que me chamou atenção é a falta de comunicação entre as pessoas. Os também turistas norte-americanos que estavam no ônibus com Richard e Susan deixam à mulher no local, mesmo sabendo da gravidade do acidente, temendo por novos ataques. Além disso, os policiais marroquinos que não ouvem uma palavra sequer dos acusados e os norte-americanos, que mandam, sem querer saber de qualquer explicação, Santiago sair do carro. Em contraponto a isso, temos a figura do marroquino que se comunica de todas as maneiras possíveis ao casal ianque, pelo simples prazer de ajudar (no final do filme Richard oferece dinheiro ao homem que recusa). Além disso, a jovem oriental que mesmo surda-muda é capaz de se comunicar melhor do que outros que conseguem falar. Mas o desfecho dessa história não é dos melhores. Depois de Amores brutos, 21 gramas e Babel Alejandro González Iñárritu e Guillermo Arriaga declararam o fim da parceria. De um lado, o diretor reclama do ex-colega ao dizer que deveria se envergonhar nessa obsessão pela autoria do filme, afinal, cinema é uma arte coletiva. Por outro lado, o roteirista, alega que Iñarritu havia mudado em excesso o roteiro original de Babel e proibido que Arriaga permanecesse nas filmagens. Quem está certo? Não sei. Pior para o público que não vai mais poder acompanhar a parceria de responsáveis por grandes obras cinematográficas como Amores brutos e 21 gramas. Porém, se viessem mais Babeis a tristeza não seria tão grande. Para saber mais sobre a ruptura entre Iñarritu e Arriaga: http://oglobo.globo.com/cultura/oscar2007/mat/2007/02/26/294715502.asp |
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