
25/09/07
O Sol se põe nos Andes
Alberto Fujimori foi extraditado
para o Peru neste último fim de semana após
passar dois anos no Chile. Não posso dizer se o ex-presidente
do país andino voltou ao seu país natal, pois
há grandes dúvidas se ele realmente nasceu
na cidade de Cuzco, como ele afirma. É grande a chance
de que o filho de imigrantes japoneses seja, em realidade,
também japonês.
E o que isso tem de importância? Além do fato
de que, como nascido em solo nipônico ele jamais poderia
ter exercido a presidência (cargo que ocupou entre
1990 e 2000), essa é mais uma da lista de folclores
de mau-gosto que Fujimori impinge aos seus conterrâneos
(?). Neste ano, ele já havia brindado o público
com uma ridícula fanfarrice: concorreu ao Senado
japonês, por um partido minúsculo. Prestou-se
a tal papel ridículo na esperança de fugir
aos processos que já corriam na Justiça peruana,
pois, como representante eleito no Japão, teria uma
grande margem de manobra política no cenário
internacional e poderia evitar o que aconteceu no último
ano. Detalhe: por ser “exilado político”
no Chile, o honorável senhor Fujimori fez toda sua
campanha sem pisar na terra do Sol Nascente.
De certas personalidades, pode-se esperar tudo. Tudo mesmo.
E Alberto Fujimori é um representante mais que digno
desta categoria. Devemos atentar para o fato de que ele
havia renunciado ao seu mandato de presidente, sete anos
atrás, quando estava em uma reunião da APEC
(Associação para Cooperação
Econômica da Ásia e do Pacífico), em
Brunei. O fez porque era grande a possibilidade de ser destituído
do poder diante do mar de corrupção que foi
desvelado nos últimos anos de seu governo, além
do massacre de 25 manifestantes que protestavam contra sua
administração. Após renunciar, onde
Fujimori foi se instalar? Ganha um sashimi quem acertar
a resposta.
Fujimori foi um dos presidentes de orientação
neoliberal que estiveram ocupando cargos na América
Latina entre as décadas 1980-1990. Vencendo de maneira
surpreendente o escrito Mario Vargas Llosa, nas eleições,
ele até começou bem seu governo, controlando
a gravíssima crise econômica que assolou o
Peru e desmantelando o terrorismo de grupos como o Sendero
Luminoso. Todavia, seu estilo era, e continua sendo, inconfundível.
Ao prender o chefe do Sendero, Abimael Guzmán, em
1992, o apresentou à imprensa dentro de uma jaula,
trajado com o uniforme de presidiário listrado em
preto-e-branco característico dos filmes norte-americanos,
numa das cenas mais bizarras já protagonizadas por
um presidente. Banzai!
O ex-líder nipo-peruano pensou que iria zombar mais
uma vez. Acabou caindo do cavalo. Que sua prisão
não seja apenas um fogo de palha, e ele pague pelos
crimes cometidos. Sua zombaria com as instituições
nacionais (de três países!) foi muito além
de sua origem nebulosa. O misterioso Fujimori pode ter um
fim que nunca imaginou. Ele acreditava que nada o atingiria.
Ele pensou que era um samurai.
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Ivan Bomfim
é jornalista, graduando em História e pós-graduando
em Relações Internacionais. Busca compreender
o mundo contemporâneo, mas sempre com um olho na História,
afinal "o presente é o reflexo do passado".
Fale com ele pelo email: ivanjornalista@yahoo.com.br
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