
30/08/07
Do milagre econômico
ao milagre político
Delfim Netto é uma daquelas
figuras políticas importantes para se entender como
funciona o poder no Brasil. Não apenas no aspecto
mesquinho da negociação de cargos e concessões
de parlamentares ávidos por espaço no imaginário
popular, mas também por ser parte ativa de uma história
de repressões, brigas e críticas contra a
ditadura militar no país.
Considerado o pai do milagre
econômico que levou o país, nas décadas
de 60 a 70, a um crescimento vertiginoso e ex-deputado federal
pelo PMDB-SP, o economista de 79 anos é um eterno
analista da conjuntura política e econômica
do Brasil. Tendo sido ministro do Planejamento do governo
João Batista Figueiredo (1979-1985) e hoje aliado
de primeira hora do presidente Lula, Netto é sempre
opinião importante para entender as relações
históricas e atuais da política nacional.
Em sabatina ao Jornal Folha
de São Paulo, fez um raio-x do presidente Lula e
de sua atuação no governo brasileiro. Segundo
o ex-ministro, Lula é uma média geométrica
entre tigre e raposa. E o peso varia. Ele vai escolhendo
o peso para a média de acordo com a oportunidade,
disse. A partir disso podemos imaginar: no caso do escândalo
do mensalão, no qual o presidente chegou a pedir
desculpas ao povo brasileiro, mas não admitiu saber
do esquema, ele foi tigre ou raposa?
Outra assertiva de Delfim.
As coisas mudam menos do que parecem. Visto de fora,
a mudança é grande. Visto de dentro, é
muito pequena, referindo-se ao que presenciou enquanto
ministro dos tempos de ditadura e como é a política
feita nos corredores do Congresso Nacional atualmente. Bom,
uma breve olhada no noticiário coberto de denúncias
sobre mensalão, manobras do presidente do Senado
entre outros assuntos, pode-se concluir então que
a corrupção, lavagem de dinheiro, barganha
política e coronelismo fazem mesmo parte da República
de Zé Carioca desde os mais longínquos tempos.
De Dom Pedro, passando por Washington Luís e chegando
a Lula, nada muda na política brasileira.
E a nota triste aparece agora,
fresquinha, da boca de Delfim Netto. (A
reforma política) Era fundamental. Ainda é.
Mas eu estou desesperançando. Qual é a única
coisa que as pessoas estão atrás? Que o financiamento
seja por conta do governo. Por conta do governo, não.
Por conta da sociedade. Se até mesmo o homem
que inventou um milagre econômico em meio às
pataquadas e cassetadas de militares está desistindo,
que dirá então nós, meros mortais?
Quem acredita em um milagre político
que se apegue ao seu partido ou até mesmo a alguma
santidade. Talvez faça efeito.
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Guilherme
Ibraim é jornalista e desde o início
da carreira trabalhou nas assessorias de imprensa dos Correios
e Epamig (Empresa de Pesquisa Agropécuária
de Minas Gerais). Além disso participou de projetos
de jornalismo público como o Jornal da Rua. Em 2006
trabalhou como produtor de jornalismo na Rádio Inconfidência
e como repórter do site Futbrasil ( www.futbrasil.com).
Atualmente realiza coberturas e transmissões esportivas
pela Agência AMR Notícias. Fale com ele:
g.ibraim@gmail.com
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