|
|
||||
|
|||||
De repente parei de brincar de bola na rua, precisei trabalhar com meu pai. Com as pernas todas arranhadas e cortadas saíamos do meio do mato com papagaios nas mãos. Espinhos e cercas de arame farpado não importavam. À noite, depois do banho, descobríamos que importavam sim. A coleção de papagaios embaixo da cama já atingia os 30, ou mais, não me recordo bem. Do alto daquele barranco, onde Lia e Geraldo moravam, fizemos história. Quase todo dia, no final da tarde, íamos empinar nossos papagaios. Era muito bom. De repente parei de colecionar papagaios, precisei estudar em dois horários. Ah! E as baladas. Quantas noites boas. Pracinha, as mesmas pessoas, era divertido. Vez em quando pintava algum rosto diferente. Quando isso acontecia era um galantear de olhares sem fim. E o Breno, quanta bagunça! Já corremos muito; e as negociações: “Que isso cara, ninguém olhou pra sua namorada não. Ainda mais você que é sangue bom.” É, as gírias eram gostosas. Falávamos sem preocupações. De repente parei de ir à pracinha, precisei assumir mais responsabilidades. E os lotes a capinar. Ah! Baxinho e eu tínhamos fama de barateiros e bons de serviço. A grana que levantávamos era, sempre, depositada no fliperama do bar do Zezé. Baxinho e eu zerávamos constantemente aqueles jogos. Por fim, não éramos mais bem-vindos, pois com uma ficha ficávamos muito tempo. Prejuízo para o Zezé. De repente parei de capinar quintais e jogar fliperama; precisei trabalhar de carteira assinada. Hoje, quando volto à casa dos meus pais, um misto de nostalgia e alegria me invade. Sinto uma alegria pulsante em rever meus irmãos, meus pais. Quanto aos velhos amigos, alguns casaram, outros mudaram, tantos não tenho notícias. O lugar que parecia ser tão infinito, se mostra distante, carregado de lembranças. A rua do futebol está vazia; a coleção de papagaios está sem dono; as baladas já não embalam, os quintais estão capinados. Um pouco daquele lugar encantado cresceu comigo. A magia dos tempos de criança e adolescente permanece na memória. Tudo aconteceu assim mesmo, tão de repente. De repente parei de viver a doçura e a inquietude dos tempos de criança e adolescente; precisei estudar jornalismo. Me formei. Des (entendi) muitas coisas. De repente precisei escrever. Quanto a isso, sei que é um aprendizado contínuo. Sempre haverá muitos caminhos por onde andar... Ainda bem!
|
|||||
|