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O sol impunha toda sua força.
Há duas semanas o Sr. Waldomiro havia combinado com Sebastião a capina do seu sítio. Desempregado há três anos, Sebastião não pensou duas vezes: aceitou. Pai de dois meninos e uma menina vivia de bicos: pedreiro, carpinteiro, motorista e qualquer ocupação que lhe permitisse levar comida pra dentro de casa. Casado com Ellen há oitos anos viu que sua situação financeira não ia ficar nada boa ao ser despedido da metalúrgica onde trabalhava. Alegaram redução de custos. De lá pra cá não conseguiu outro emprego para exercer sua profissão. De tanto procurar, desistiu. Sebastião é homem simples, honesto de muitas amizades e consciente dos seus valores. O preço da capina foi imposto pelo Sr. Waldomiro. Sebastião até tentou argumentar: Sebastião realmente não tinha muita escolha. Há quase uma semana não conseguia levantar um real. O que havia conseguido fazendo carreto com sua velha Kombi estava no fim. Ellen também se desdobrava para lavar e passar roupas pra fora. Eles se conheceram na roça, na casa do pai de Ellen. Namoraram durante dois anos e se casaram. Compraram uma pequena casa na cidade, para aonde mudaram assim que Sebastião arrumou um emprego como metalúrgico. Primeiro veio o Rennê, depois o Rodrigo e, por fim a caçula, Camila. Apesar das dificuldades financeiras, vivem num clima de respeito, harmonia e muito trabalho. Sebastião sentia que o Sr. Waldomiro sabia aproveitar-se das fraquezas do outro. Engoliu as lágrimas, passou a mão na enxada e foi pra empreitada. O terreno pedregoso não ajudava. A cada enxadada, conseguia mentalizar a comida que levaria pra casa. Pensava em seus filhos. A noite chegou. Sebastião tinha o rosto cansado, mas conseguiu mudá-lo ao ver seus filhos e esposa. Ellen tinha uma beleza singular de mulher que não se entrega, que luta contra as adversidades da vida sem procurar culpados. Sebastião a beijou e disse mansamente: Sebastião não conseguiu conversar por muito mais tempo. Deu um beijo em Ellen, abençoou seus filhos, comeu um pedaço de pão dormido, dormiu. Sua ansiedade para terminar o serviço, pegar o dinheiro e comprar comida era muita. As cinco da manhã já estava a caminho da capina. Começou. Parou só pra comer o prato de feijão que Ellen havia preparado. As três da tarde tinha acabado o serviço. Foi procurar o Sr. Waldomiro. Desta vez Sebastião não conseguiu engolir as lágrimas. Sentiu a vida mais frágil, sem confiança nas pessoas. Escorou o queixo no cabo da enxada como se quisesse, naquele momento, dormir e não acreditar no que ouvira. Sentia vergonha em voltar pra casa sem comida. Ele sabia que Ellen entenderia, mas e seu orgulho... Voltou de cabeça baixa. Contou a Ellen o que acontecera. Como ele previa, ela entendeu. Ouviu alguém gritar seu nome: Aprendera desde cedo valores duradouros. Esforçava-se, com todo sacrifício, para não descumpri-los. Até agora, conseguiu. Leia também |
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