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26/02/07
Morte parcelada

No sertão poluído e urbano. Era só encomendar: mandava matar quem quer que fosse. Mas que não pedissem pra matar políticos bons ou prefeitos. Poderia dar merda como no o tal caso do Celso Daniel.

Seu nome: Jonny Espada – porque foi com a espada de Grayskull capturada de He-man que fizera sua fama. Fora uma dura batalha contra o super herói dos desenhos, mas no fim saíra vitorioso para tristeza das criancinhas chatas e pentelhas. Ao gritar “pelos poderes de Grayskull!” He-man já estava em frangalhos, estrebuchando no chão.

Os preços de Jonny Espada variavam de acordo com o tipo da morte ou ainda de acordo com o grau social da vítima. Um desconhecido sairia por 400 contos, podendo haver negociação. Já alguém bem sucedido, patrão ou figura conhecida da cidade elevava consideravelmente os preços. Aceitava pagamentos em parcelas mas não trabalhava com cheques. Tomara alguns calotes e isso trazia prejuízos, pois além de não receber nada, ainda tinha que gastar com munição, transporte etc para vingar o filha da puta. Passou a aceitar cartão de crédito, porém só o visa porque “era aceito em todos os lugares” (até no pomar de laranjas) e porque "a vida é agora", guardava e dizia isso sempre, achava bonito.

Gostava da profissão de "matadô". E, além do mais, se não matasse, morreria de fome, pois tudo que sabia fazer era aquilo. Aprendera direitinho. Aperfeiçoara-se no último ano ao realizar um workshop com o PCC.

Desde criança já tomara gosto. Adorava matar animais. Menos a coruja, dava azar. Os que mais gostava de aniquilar eram os coelhos albinos. De brancos tornavam-se rubros. Faziam seus olhos negros brilharem. Começou acertando passarinhos com estilingue; passou a arremessar gatos pelo rabo e a soltar bombinhas em seus rabos. Poupava cachorros, por se dar bem com eles. Devia ser coisa da infância, tivera um que gostava muito e que, por infelicidade do destino, morrera cedo. Deus fora cruel, se o cão não tivesse partido, ele hoje não seria o famoso e temido Jonny Espada (era o que pensava, mas na verdade, ele só não se tornaria tão fodão).

Recebera um telefonema. Tratava-se de uma encomenda. O sujeito desejava a cabeça de um cabra que o colocara um par de chifres. Traição, coisa bem comum, já se acostumara. Rendia-lhe generosas quantias de dinheiro. E por isso, podia abusar no preço. E como vai ser a morte? De qualquer jeito, contanto que a boca do cabra safado encha de formigas... Qualquer jeito não, aqui a morte tem preço. A vida custa muito caro nesses dias, não viu quanta gente morre por aí, no Iraque, por exemplo? Os caras gastam uma nota, rapaz! Como vai ser? Pode ser comum mesmo, com a espada... Com a espada? Você quem sabe, com a espada é o tipo de morte mais cara, não conhece minha fama? Não conheço! (aí, pula essa parte, porque o Jonny Espada contou pro sujeito a história de quando capturou a espada mágica do He-man).

Então, como a grana está curta, pode ser a bala mesmo, sem problemas. Certo, anotado. É garantido? Garantido.
Jonny Espada disse que ficaria em 700 contos, mas que poderia facilitar o pagamento, dividindo em até 3 vezes.
Perfeito, então vai ser morte parcelada!

 

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Gabriel P. Ruiz é jornalista, reside em Bauru-SP, gosta de rock ´n roll e vive usando a desculpa de entrevistar as bandas para conhecê-las. É editor da Revista Ponto e Vírgula da web rádio Unesp Virtual, onde também produz o programa On the Rock!. Mais no seu blog (wwwggabrielruiz.blogspot.com). Escreve todos os domingos. E-mail: gabrielpruiz@yahoo.com.br

   
 
 

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