
15/07/07
O roqueiro é um
chato. Mas ele não sabe.
“Pode anotar aí nos seus alfarrábios
sertanejos: o roqueiro é antes de tudo um forte.
E essa característica — que está na
própria essência da condição
roqueira — acompanha o cara por toda a vida. Se assuste
não” – filosofou o Marcelo Dantas em
artigo na Piauí de maio.
Filosofemos eu, filosofamos você.
O roqueiro é um chato. Ele pensa que o rock é
a melhor música do mundo. Que o Woodstock foi “o
festival”; que a geração clássica
é insuperável, e que todo mundo precisava
descobrir o Meddle, ou o Hendrix Expirience.
Ainda por cima acha que é absoluto.
Aliás, ele tem certeza disso. Tem certeza de que
a sua música é a boa música. E não
tem essa de papo de ouvir um samba, um bolero, uma bossa
de vez em quando, de estar no barato. Melhor um riff ledzépnico
vibrante, não tem erro.
O roqueiro quer disseminar o rock por todo
o planeta. Sua missão, veeprecisammentemente.
Grava mil CDs, envia mp3s e diz pros amigos que eles ouvir
aquilo. No carro, o som esticado. Dedilhados e batuques
no volante fazem parte. “Já ouviu essa?”
Ouve os discos novos e quer dar a notícia na festa,
no boteco hoje de noite.
O roqueiro devora biografias, acha que
precisa saber os nomes todos dos integrantes e os anos de
lançamentos dos discos. Foi criado ouvindo aquilo
e como tal, deve saber distribuí-los por aí.
Quem foi o produtor ou no mínimo como é a
capa dos álbuns. Sabe as lendas, os fatos dos shows,
pronto para contar para alguém a qualquer criatura
que tenha saco para ouvi-lo falar.
“Sabe que som é esse aí?”
Se gaba o roqueiro quando tocam um rock e ele identifica.
O roqueiro, quando ouve um riff ou um acorde
costuma fazer gestos no ar, facilmente identificáveis.
No meio da rua, num busão, por exemplo. Ele diz,
“não conhece? É obrigatório!”
- como se fosse um escritor importante.
O roqueiro costuma se apaixonar instantaneamente.
Quando encontra uma moça que manje rock ´n
roll, porque acha, “isso não existe!”
Mas tem aquelas minas também que
ele ouve de longe e se contorce internamente, “forrozinho?”.
Nem pá. Melhor tomar um Red Label com gelo, fumar
um cigarrete na poltrona ouvindo na vitrola empoeirada um
Who, ou o L.A Woman. Tem erro não. E no
domingão, mais ou menos como o Dantas, “pego
as crianças, ponho o Homem-aranha e a Cinderela no
carro, coloco um cd dos Stones para eles irem se acostumando,
e saio por aí. Totalmente easy rider. Me sentindo
o roqueiro mais feliz do mundo”.
No mais, estou... deixa pra lá de
Zé Ramalho, melhor ligar o chuveirão, pegar
a toalha e por pra tocar na radiola o último do Paul...
Leia
também
01/07/07-
Éramos
fome e xixi no banheiro
25/06/07
- Anota
outra boa banda nacional: Superguidis!
17/06/07
- Você
não curte nada?
Entrevista
15/06/07
- Garotos
Podres
Banda punk fala sobre carreira, ideologias
e o futuro da música naciona
27/05/07
- Vai
um vinil aí, companheiro?
20/05/07
- Espirrando
cores, se lambuzando delas!
06/05/07
- Assim
como ler Aldous Huxley
29/04/07
- O
bar das putas II
22/04/07
- A vida pós-admirável
mundo novo
08/04/07 O
causo da pane no coletivo
01/04/07
- Pá de
servente de pedreiro nas mãos
25/03/07
- À espera do novo
09/03/07 - Cerveja
na veia!
26/02/03 - Morte
Parcelada
12/02/03 - Rodo
Cotidiano
___________________________________
Gabriel
P. Ruiz é jornalista, reside em Bauru-SP,
gosta de rock ´n roll e vive usando a desculpa de
entrevistar as bandas para conhecê-las. É editor
da Revista Ponto e Vírgula da web rádio Unesp
Virtual, onde também produz o programa On the Rock!.
Mais no seu blog (wwwggabrielruiz.blogspot.com). Escreve
todos os domingos. E-mail: gabrielpruiz@yahoo.com.br
|