
10/06/07
Uma
porta aberta e um corpo no chão
Uma festa de arromba dessas
de filmes norte-americanos enlatados. Uma garota quase nua
no banheiro e apenas um desejo...

Não tinha grana para
adquirir produtos culturais e nem espetáculos, teatros
ou shows. Era tudo muito caro. Além do mais, preferia
gastar seu dinheiro com bebida, maconha e mulheres. E mandava
se foder quem viesse com lero-lero. Nem por isso deixava
de ouvir músicas boas. Aliás,
o que é boa música? Aquelas que a Sílvia
cantou, será? O pacotão emo que
está aí dominando o mundo?
Colava na casa do tio e lá
pegava revistas de música para folhear. Dava uma
olhada em algumas Playboys que ficavam por lá também.
Depois contava nas rodas de bar ou quando alguém
tocava alguma canção nas reuniões jovens
regadas a vinho ou nos diálogos pós-sexo.
Viajar, esse era o verbo. Acabaria
passando pelas cidades interioranas e capitais com pouco
dinheiro, regra básica. Apaixonando algumas garotas
pois toda panela tinha sua tampa e havia mulheres
que se apaixonavam facilmente. Essas eram as melhores. Podia
enganá-las, dar qualquer desculpa esfarrapada que
estava ótimo.
Certa vez numa festa, dessas
de arromba, sabe-se lá o que é uma festa de
arromba, entrou no banheiro e deparou-se com uma mina
caída no chão de azulejos brancos, apenas
de camiseta, suja. Parecia desacordada. Da porta olhou para
os lados, ninguém a vista. Ficou pensativo e nesses
pensamentos queria apalpá-la, olhar de perto, ver
os pêlos vaginais. Adentrou, abaixou-se um pouco.
Voltou para a porta, ninguém se aproximava. Olhou
para a menina: permanecia imóvel. Sentia um frio
na barriga. Sempre tinha essa sensação, quando
queria fazer algo, mas sentia medo. Estava mesmo disposto.
Seguiu em frente, deu três passos, ela estava ali,
quieta. Abaixou-se devagar e pensou que teria de agir rápido,
alguém poderia aparecer. E a festa de arromba? Devia
estar rolando ou poderia ser apenas uma festinha qualquer,
pouco importava... levantou sua blusa, sentiu um cheiro
péssimo, teve vontade de gorfar, mas não o
fez. Acostumou-se. Como era linda. Pêlos fartos. Passou
a mão por dentro da camiseta e tocou os seios, rígidos,
cabiam perfeitamente em suas mãos. Só depois
parou para pensar que nesse tempo todo ainda não
tinha reparado no rosto da garota. Levantou a cabeça.
Era morena, cabelos lisos, colocou-os pro lado para observar
melhor. A menina suspirou, moveu a cabeça, mas continuou
desacordada. O banheiro estava escuro, mas não poderia
acender a luz. O banheiro teria luz? Estava absurdamente
excitado, queria colocar pra fora. Desceu as mãos,
passou-a no púbis. Ia estourar, latejava. Queria
muito, mas isso seria ridículo e certamente a acordaria.
Colocou para fora, começou a mexer devagar. Sentiu
alívio. Que delícia. Com a outra mão
passeava pelo corpo feminino. Logo gozaria. Pensou nos amigos,
lógico que contaria para os mais íntimos aquela
experiência bizarra no banheiro. Isso, porque estava
de cara. Os movimentos aumentavam, estava quase lá.
Já pensava onde se limparia. De repente sua visão
ficou toda escura, não viu mais nada. Acordou com
o ruído de conversas numa cama de hospital, ao ouvir
lá de longe alguém dizer que sofrera
traumatismo craniano.
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Gabriel
P. Ruiz é jornalista, reside em Bauru-SP,
gosta de rock ´n roll e vive usando a desculpa de
entrevistar as bandas para conhecê-las. É editor
da Revista Ponto e Vírgula da web rádio Unesp
Virtual, onde também produz o programa On the Rock!.
Mais no seu blog (wwwggabrielruiz.blogspot.com). Escreve
todos os domingos. E-mail: gabrielpruiz@yahoo.com.br
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