
11/08/07
Uma solução
digna de Dom Quixote
O problema das regiões
atingidas pela seca em nosso país nunca foi falta
d’água, e sim incompetência administrativa.
A presença de água jamais foi sinônimo
de prosperidade econômica, assim como sua falta não
significa carência. É oportuno lembrar que
as populações ribeirinhas do Vale do Jequitinhonha
apresentam baixíssimos índices de desenvolvimento
econômico enquanto que habitantes de países
desérticos como Israel estão na invejável
posição de primeiro mundo.
Na intenção de
impulsionar o crescsimento nas regiões do conhecido
polígono da seca, vários órgãos
foram criados e milhares de recursos investidos. Porém
o que os brasileiros presenciam é a total discrepância
entre os habitantes miseráveis do semi-árido
e os abastados coronéis beneficiados pela indústria
da seca. Indústria esta responsável pela eleição
de diversos parlamentares, assim como o desvio incalculável
de verbas antes destinadas para sanar o problema. No meio
deste cenário vergonhoso que já perdura por
mais de um século, eis que o atual governo lança
à população um projeto mirabolante:
desviar o curso do rio São Francisco para acabar
com a seca do Nordeste.
No mínimo quixotesco,
caso seja levado adiante, o projeto desfere um golpe de
foice em um rio já tão castigado pela poluição,
pesca predatória e a construção de
barragens, como a de Sobradinho, que foram concluídas
sem a menor preocupação com os impactos ambientais
que seriam causados. O Velho Chico já perdeu uma
considerável capacidade hídrica durante as
ultimas décadas. Alguns de seus rios afluentes se
tornaram temporários como o Ipanema.
Falta seriedade por parte do
governo em pesquisar uma solução adequada
e eficaz para região sem agredir o meio ambiente.
Enquanto a tendência do mundo atual é a preocupação
com os aspectos ecológicos, no Brasil somos obrigados
a ouvir afirmações niilistas como a do Senador
Inácio Arrudas dizendo que os impactos ambientais
causados pela transposição do rio São
Francisco serão positivos. Aliás, declarações
com óticas deturpadas parecem ser o ponto forte deste
governo, basta lembrar do celebre “relaxa e goza”
declamado pela ministra Marta Suplicy ao fazer referência
a crise aérea. Baseado na pseudo-idéia de
“Rio da Integração Nacional”,
o governo demonstra uma tendência incômoda de
vislumbrar o “Velho Chico” como patrimônio
da União a ser disposto conforme seus interesses.
Na realidade, qualquer ecossistema é patrimônio
da humanidade.
Sendo no mínimo simplista,
podemos dizer que não existe impacto ambiental positivo.
A própria palavra já diz “impacto”.
Projetos como estes já foram executados no Brasil
e não trouxeram benefícios relevantes às
populações carentes. Vale lembrar do saudoso
projeto Jaíba instalado em 1987 que hoje é
palco de tensas discussões na Assembléia Legislativa
de Minas Gerais, e já consumiu cerca de 500 milhões
de dólares dos cofres públicos sem apresentar
resultados relevantes. Além disso, devemos nos atentar
para as centenas de relatórios de organizações
não governamentais que demonstram claramente que,
em vários casos de transposição de
rios, os danos à natureza foram incalculáveis,
como a extinção de espécies aquáticas
e a salinização das águas a exemplo
do Colorado, nos Estados Unidos. Tudo isso nos remete a
inconfortável pergunta será que vale a pena
investir em culturas agrícolas que exigem elevados
recursos hídricos em regiões onde os mesmos
são escassos?
Um projeto como este, além
de ter um custo oneroso para o contribuinte, deve ser executado,
em ultimo caso, quando todas as soluções alternativas
fracassarem. É preciso ter muita cautela e avaliar
através de estudos os possíveis impactos ambientes
envolvidos, a eficácia da solução,
os beneficiados pelo mesmo, além é claro da
viabilidade da execução do projeto.
_________________________________________________
Francisco Tovo é
jornalista, assessor de imprensa e defensor incansável
das causas ambientais. Escreve quinzenalmente aos sábados
sobre Meio Ambiente para o site O Binóculo.
Fale com ele franciscotovo@yahoo.com.br
|