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30/07/07
Priscila
Armani Nossa, mas que surpresa! Zuzu Angel é um filme muito fraco. E não é necessário ser nenhum cinéfilo ou crítico para constatar isso. As poucas cenas de tortura que mostravam explicitamente choques e outras "brincadeirinhas" que os milicos faziam não são nada se comparadas aos tiroteios de O Pianista. E detalhe: no filme de Polanski não há cenas de tortura e nem das câmaras de gás que aterrorizaram milhares de judeus. Quase não vemos campos de tortura. E Zuzu Angel tinha um prato cheio para explorar: um jovem brasileiro, filho de uma estilista e um norte-americano, entra para a militância contra Médici e é preso. A estilista, como qualquer mãe, move mundos e fundos para reencontrar o filho. E o filme conta sobre a busca pelo filho perdido. Era de se esperar que um assunto tão polêmico e carregado de carga emocional, num Brasil onde mães que perderam os filhos para a Ditadura começam a receber indenizações, fosse recheado de interpretações memoráveis. Justiça seja feita a Patrícia Pillar, que se esforçou muito, mas os demais, foram apenas coadjuvantes. Daniel de Oliveira, que foi um Cazuza impressionante, faz pouco esforço. Leandra Leal, apagada completamente. Que tristeza. Mas então eu percebo que atores tão bons não podem ter sido ruins por acaso. A responsável pela película é a Globo Filmes. E é pública e notória a relação Globo-Ditadura. Pensando nisso, percebemos exatamente as falhas de Zuzu Angel. E o mistério se desfaz. Não são divulgados no filme os nomes do General da Aeronáutica e de seu subordinado que torturaram o filho de Zuzu. E não fica esclarecido no fim do filme o destino deles. Punição para militares, só a divina. Outro aspecto: o filme é fraco em termos históricos. Por exemplo, se você não sabe quem é Carlos Lamarca ou Médici, procure saber antes de assistir à película. Somos um país sem memória. E esse resgate não foi preocupação dos produtores do filme. Já Polanski, não precisou se preocupar em contextualizar Hitler. E mesmo assim, acabou fazendo-o. Há um pouco de hipocrisia no ar, parece que a Globo quer fazer uma espécie de mea culpa. Isso porque Zuzu teria sido muito mais agradecida a Roberto Marinho se este tivesse dado ouvidos a seus apelos ao invés da emissora financiar um filme em sua memória. E qual contribuição afinal de contas trouxe este filme à memória de Zuzu? Divulgou sua história a um número maior de pessoas que a desconheciam. Agora eu penso: terá ele contribuido para que as pessoas se conscientizem de como são perigosos os regimes totalitários? E de que a Democracia é sagrada, sempre? Tenho dúvidas. Uma personagem como Zuzu merecia mais. Muito mais. Escrevo apenas algumas horas depois de ter assistido este filme e já me lembro muito pouco dele. Mas a cena em que o pianista prova geléia, depois de meses de fome, ficará em minha memória para sempre. Se você vai ao cinema, sai e não se lembra de nada que viu já no estacionamento, você gastou dinheiro à toa. Então, se você quer um bom filme de época, alugue O Pianista, de Roman Polanski. Estou sendo anti-nacionalista, falando mal de um filme brasileiro? Não. Mas o Polanski não é nenhuma flor que se cheire e veja o filme que ele fez. Zuzu Angel tinha tudo pra ser até melhor que O Pianista. Mas perdeu a oportunidade. |
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