Hoje os órgãos estudantis defendem uma organização a partir dos modelos dos próprios partidos que querem, a qualquer custo, espaço nas universidades pelo Brasil afora. A academia, por não estar dissociada da sociedade, tende a reproduzir um discurso atrelando a interesses maiores e, neste caso, DA’s e DCE’s se tornam clubinhos e palanques políticos.

Foto; Arquivo UNE

 

28/08/07
Movimento estudantil: a busca pela representatividade e o papel dos CA's e DCE's

Há tempos me sinto incomodado com o que se entende por movimento estudantil, e por CA's, DA's e DCE's como mecanismos de representação estudantil espalhados pelas universidades. Quem não se pergunta, para que servem essas siglas? Bagunça, diretas já ou festas já? É o que tenho me perguntado, desde que entrei na universidade.

CA significa “Centro Acadêmico”, e serve para representar os alunos de um determinado curso ou faculdade dentro da universidade e pode ser chamado também de DA, que significa “diretório acadêmico”. DCE's são entidades maiores, que representam o conjunto dos estudantes dentro da Universidade.

Embora a intenção desse texto seja criticar as instituições representativas do movimento estudantil, e sua burocratização e apropriação por partidos políticos das mais variadas legendas, não se pode deixar de lado o papel da atuação dos estudantes na história do país.

O marco da organização estudantil no país foi a criação da UNE em 1937, servindo como importante referencia na definição da atuação dos estudantes no Brasil. Os estudantes estiveram presentes em momentos de grande tensão na história do país, cabe ressaltar, atuando diretamente a favor da campanha “o petróleo é nosso” e se organizando como resistência ao governo militar, a favor da redemocratização do pais.

Após a reabertura política do país, e do surgimento de várias legendas partidárias, o movimento estudantil começou a se dissolver pela falta de uma ideologia própria, original. Essa dissolução ocorreu no âmbito político, no mesmo tempo que o “movimento” se expandia devido a um aumento no número dos estudantes envolvidos com partidos políticos.

O país estruturou-se, pós-regime militar, na fragmentação partidária e na busca incessante de representação, acreditando na existência uma maneira apenas de se constituir força política: a reconhecida e aceita pelo Estado. Não vou entrar em nenhum debate sobre democracia e organização político-partidária, mas deixo claro que a posição deste humilde ser pensante é de ruptura com a política representativa e com as instituições partidárias.

Retomando a questão inicial, pra que servem os DA's, CA's e DCE's? O que e quem eles representam hoje? Teoricamente esses órgãos representam os estudantes e servem para dar força e legitimar a atuação dos mesmos, mas praticamente funcionam como aparelhos burocráticos, que reproduzem a organização partidária, onde alguns jovens politiqueiros fazem carreira.

Hoje os órgãos estudantis defendem uma organização a partir dos modelos dos próprios partidos que querem, a qualquer custo, espaço nas universidades pelo Brasil afora. A academia, por não estar dissociada da sociedade, tende a reproduzir um discurso atrelando a interesses maiores e, neste caso, DA’s e DCE’s se tornam clubinhos e palanques políticos. Há de se ressaltar que esse processo de individualização do espaço estudantil é inerente ao processo de organização burocrática, onde se diz que ‘o estudante deve buscar representatividade’, e não representar-se. O estudante acaba por deixar de existir por si só com agente político, deixando a desilusão substituir o sentimento de pertencimento, de identidade.

É corrente no discurso vindo do partidarismo político que a anulação do sistema de representação só traria a apatia, ou o caos do desgoverno. Neste sentido qualquer forma autogestionária estaria fadada ao fracasso. Porém é importante ressaltar o caos em que as estruturas estudantis vivenciam hoje, dentro de um mar de corrupção e tramelas políticas com siglas partidárias.

Os estudantes (e eu me incluo no meio) não podem negar o papel que possuem na sociedade. Um papel que deve ser desconstruído para superar as novas formas de controle e anulação política. Não devemos aceitar a retórica da simulação do consenso através dos partidos e da representatividade política.

Não posso cometer o erro de, simplesmente, culpar as organizações por detrás das legendas. Guy Debord ao redigir sua ácida e estonteante crítica ao meio estudantil em Estrasburgo, intitulada “Da miséria do meio estudantil” de 1966, já revelava a passividade dos estudantes como algo inerente à sí mesmos a partir da sua categorização política. Os aparelhos burocráticos criam mecanismos para assegurar a própria gestão, fazendo com que a única maneira de se aproximar e participar sejam em festas ou encontros psicodélicos. Mas esse não foi bem o caso da França de Debord em 1968.

Para Debord, o estudante “participa de todos os valores e mistificações do sistema, e em si os concentra. Aquilo que eram ilusões impostas aos assalariados torna-se ideologia interiorizada e veiculada pela massa dos futuros quadros profissionais secundários”

Pode parecer panfletário algumas colocações aqui postas, mas enquanto não estabelecermos um controle coletivo do que é chamado “movimento estudantil”, a força de nossas ações nunca estará em nossas mãos e, de forma efetiva, estaremos sempre reclamando pelos corredores, reivindicando outro para tomar conta dos nossos direitos. PT, PSDB, PMDB, PSOL, PSTU, PCO dentre outros partidos não devem ser mastro da bandeira estudantil, muito menos a própria bandeira, ocupando o movimento estudantil para arrebanhar cordeiros, afinal de contas, somos muitos estudantes, cada um com sua particularidade política.


Leia também
07/08/07 - Pró-vida ou pró-escolha? Quem vai carregar o fardo?

________________________________________________________

Carlos Alberto está se graduando em História, é chefe de cozinha e músico de araque. Especialista em filosofia de buteco, estratégias sustentáveis de sobrevivência na cozinha e soluções subversivas para superar rotinas exaustivas de trabalho.
Fale com ele: veganito126@gmail.com



   
 
 

colunas

[ + ]
Amenidades
[ + ]
Diz Tudo
[ + ]
Nota Independente

[ + ]
Perspectiva
[ + ]
Retalhos Culturais
[ + ]
Trejeitos

enquete

Ocupar as reitorias é certo de reivindicar os direitos estudantis?

Sim Não

 

Expediente::: Quem Somos::: Contato:::Política de Privacidade:::Patrocine nossa idéia
Copyright © 2007 Jornal O Binóculo On Line All rights reserved