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Falo de ti, mas também penso em teus companheiros. Para minha sorte, tu não viste a vergonha estampada em meu rosto. Penso em silenciar o olhar, mas recebo, de imediato, o teu. Sinto a explosão de sentimentos truncados. Esboço a minha sinceridade, mas não ando com muita credibilidade, não é mesmo?

11/06/07
Silêncio: inocente?

Que tipo de olhar é esse que lanças aos demais? Estou à janela, fitando-te, aguardando por uma correspondência do olhar, por um sinal que possa arrematar a minha dúvida num momento inoportuno. Entre tantas faces, vejo a tua, esquálida, desalentada. Penso em ti como uma resposta a todos os momentos de fraqueza, desprezo e indiferença de outros como eu. Vejo em teus olhos o ódio, sentimento que esconde o teu medo, nobre desconhecido. Foste alguém com esperança, em algum momento de sua jornada. Mas, hoje, vejo em ti o reflexo de toda a hipocrisia, do olhar seletivo das pessoas, do descaso inexplicável de homens e mulheres entregues à certeza de uma ignorância.

Falo de ti, mas também penso em teus companheiros. Para minha sorte, tu não viste a vergonha estampada em meu rosto. Penso em silenciar o olhar, mas recebo, de imediato, o teu. Sinto a explosão de sentimentos truncados. Esboço a minha sinceridade, mas não ando com muita credibilidade, não é mesmo? Imagines tu, nobre soldado remanescente, considerares o que digo! Ingenuidade minha pensar que passarás a alimentar confiança apenas por um olhar de arrependimento, ou um contato de solidariedade momentânea. Sei que não acreditas no que meus olhos dizem. Teu olhar destrói minhas esperanças de levar a ti um pedido de desculpas. Não queres ver o que estou tentando expressar, mas não posso condenar-te. Logo eu, o mesmo que, ao passar ao teu lado, pensa em atravessar a rua, ou em correr. O mesmo que respondeu-te, impaciente, ao pedido de ajuda na semana passada.

O sinal abre. Tu observas, ressabiado. Não sei o que pensas, ou o que se passa em teu imaginário. Penso em teus possíveis sonhos, nos caminhos que a ti se deixaram de abrir. O arranque do automóvel me deixa triste, nobre amigo. Sei que vou pensar em tudo nos próximos dias. Mas tu, intrépido, me olhas com desconfiança. Revelas ainda mais rancor. Pensas que, em segundos, sequer lembrarei do teu rosto. Engano teu! Não apaguei-te de minha memória. Lembro do teu olhar, do teu pedido subentendido. Espero que vejas, algum dia, que o silêncio de nossos olhares deu voz às palavras de um cidadão envergonhado. Acredito que tudo pode e será diferente para ti. Vejo-te atento, novamente, às atividades no sinal. E o mesmo sinal silenciou o grito dos teus olhos por liberdade. A ti peço desculpas...


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Guilherme Amorim é um mineiro simples, metido a organizado e que sobrevive sem estantes. Além de devoto da Mega Sena, irônico e canhoto fervoroso, é jornalista e criador/apresentador do programa Espátula, veiculado na iRadio. Escreve mensalmente na coluna Trejeitos. E-mail: guilbh@gmail.com

 
 
 

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