
05/11/07
O destino único do
Ludopédio
Muito bem. Em 2014, depois
de 64 anos, o Brasil voltará a sediar o maior evento
futebolístico do planeta. A bem da verdade, conquista
chocha, sem adversários, com personalidades brasileiras
dedicando seus discursos ao mundo para, literalmente, cumprir
tabela (ou arrancar discretos risos de senhores de terno,
constrangidos por ter que engolir um único interessado
em hospedar a festa maior do futebol).
Aos olhos dos outros continentes
e federações envolvidas, pouco importa se
o Brasil, politicamente, conseguiu apoio de associações
da América do Sul para unificar a sua candidatura.
Ainda que, por mérito, o nosso país tenha
formulado um engenhoso projeto, digno dos diplomáticos
elogios do presidente da FIFA, Joseph Blatter, o verdadeiro
recado foi dado dias antes, com o anúncio de que
a entidade maior do futebol colocará fim ao sistema
de rodízios de continentes para a realização
das Copas do Mundo.
Entre nós, brasileiros,
pode, sim, prevalecer o orgulho, a esperança de ver,
mais uma vez, em terras tupiniquins, a magia do esporte
que contagia e une toda a população. Podemos
ter a certeza de que as nossas belezas e recursos naturais,
primorosos cartões de visita, deram vida e poesia
à candidatura brasileira. Porém, não
foram (e poucos acreditaram que seriam) capazes de retirar,
das grandes potências, uma certeza: países
emergentes não têm condições
de realizar eventos esportivos dessa magnitude.
Ah, mas o Pan...,
ou Isso é preconceito, que absurdo!.
É verdade, mas é como deve ser acolhida a
piedosa escolha (sem opções) do Brasil como
sede da Copa de 2014. Copa que, seguramente, será
vistosa e que não terá seu sucesso ameaçado.
No entanto, este será um acontecimento que ficará
marcado por ter feito surgir uma nova face da má
vontade internacional.
As sucessivas eleições
de África do Sul e Brasil sentenciaram, de uma vez
por todas, que a ordem responsável pelo esporte,
elitista que só ela, não tolerará,
tão cedo, a idéia de universalização
do futebol. E pouco adianta que, no momento, as duas nações
que lideram o ranking desse esporte sejam representantes
imediatas do dito Terceiro Mundo.
Não. Para os barões
do ludopédio, o talento e a alegria de
jogadores de países como o Brasil serão sempre
a matéria-prima, pronta a entreter os elegantes e
poderosos em seus suntuosos camarotes. Pois, na hora da
festa, seria muita petulância que tais povos se julgassem
capazes de equiparar-se ao requinte e à sofisticação
do tradicionalismo do Velho Mundo. Ora, vejam
só. Quanto atrevimento...
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Guilherme Amorim
é um mineiro simples, metido
a organizado e que sobrevive sem estantes. Além de
devoto da Mega Sena, irônico e canhoto fervoroso,
é jornalista e criador/apresentador do programa Espátula,
veiculado na iRadio. Escreve mensalmente na coluna Trejeitos.
E-mail: guilbh@gmail.com
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