
03/03/08
Ecos falsos
Um dia você acorda num
passar de minutos. Aquilo que era, segundos antes, simplesmente
deixa de ser, faz com que tudo o que outrora se disse inexistisse,
fosse invalidado, deixado à margem de palavras em
vão que não refletiram razão.
Ah, a razão! E quando é que a razão
se torna a grande verdade? Quando fugimos do que não
conhecemos e optamos pelo resguardo de nossa existência
rotineira e previsível? Ou, quem sabe, quando corremos
riscos dentro dos limites? O que de diferente se faz quando
deixamos de ser nós mesmos? E desde quando mudar
ou viver o novo é desrespeitar a essência do
que se é? E por que, afinal, vira conflito?!
Outro dia me disseram que pensar
demais atrapalha. E como atrapalha! Pior ainda quando nos
criam personagens, no silêncio, no chute, sem diálogo.
Tornamo-nos distantes por hipóteses, deixamos de
nos conhecer pelas suposições de quem apenas
achou e bancou como verdade até transformar
em certeza. E o meio do caminho não registrou o salto:
está feliz em chegar, pelo atalho conveniente, ao
que chama, cegamente, de resposta.
E contra argumento unilateral
não há piedade, nem escolha, nem explicação.
É sentença inevitável, indefensável.
A mentira que vira verdade e a verdade que nunca teve a
chance de deixar de ser mentira. Pois quando ecos falsos
falam de si mesmos, não ressoa, deles, o tom do desconhecido,
mas o confortável abrigo da indiferença. E
culpados se tornam os outros, até vivermos sem medo,
do medo a quem um dia entregamos preciosas oportunidades.
E as chances vão embora.
Talvez voltem, talvez não. Mas deve saber o que faz
aquele que opta, conscientemente, por experimentar o tempo
que tem sentindo o que já conhece. Tão seguro,
não é, é, é, é, é...
?
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2007
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Guilherme Amorim
é um mineiro simples, metido
a organizado e que sobrevive sem estantes. Além de
devoto da Mega Sena, irônico e canhoto fervoroso,
é jornalista e criador/apresentador do programa Espátula,
veiculado na iRadio. Escreve mensalmente na coluna Trejeitos.
E-mail: guilbh@gmail.com
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