
27/08/07
Classificados
Procura-se um amor. Que não
seja como o dos livros, mas que tenha magia. Que não
transforme abóboras em carruagens, mas transforme
olhares em respostas. Não quero o amor das baladas,
do cala a boca e beija logo, do ninguém
é de ninguém. Que seja de beijos até
que os olhos mudem de cor, que seja de paixão,
de pele, mas não do agora; que seja do sempre. Ou
pelo menos do eterno enquanto dure. E que dure.
Procura-se um amor que goste
de banho de chuva, de algodão doce no parque, de
brigadeiro com coca-cola nas tardes de domingo. Que tenha
saco para ouvir minhas empolgações profissionais
e entenda que ficar em casa em uma sexta-feira à
noite pode ser uma grande idéia. Que encha minha
bola quando a TPM tratar de murcha-la e murche minha barriga
quando a TPM tratar de incha-la.
Procura-se um amor sem cheiro
de mofo, sem medo de fantasmas, sem música sertaneja,
sem rimas de amor e dor. Que fale firme quando eu precise,
que me ajude a livrar-me das manias chatas, que me ensine
a ser mais forte. Que ele erre como qualquer mortal, mas
que erre sabendo que o erro é a oportunidade de aprender
como não se fazer de novo.
Que ele ame as palavras e
faça bom uso delas. Que goste do silêncio e
entenda que, por muitas vezes, ele é a resposta mais
sábia. Que sorria como quem revela a alma. E que
chore, certo de que quem disse pela primeira vez que homem
não chora inventou a maior bobagem da humanidade.
Procura-se um amor que cante, ainda que no chuveiro. Que
dance, ainda que meus pés o odeiem por isso.
Procura-se um amor com cara
de para sempre, como o dos avós que ainda passeiam
de mãos dadas pela rua e se compreendem no tom da
voz, na respiração, no olhar. Procura-se um
amor que adore meu pijama de elefantinhos e ache minha macarronada
melhor que todas as guloseimas da casa da tia de Passa Quatro.
Procura-se um amor que tome
meus pais por empréstimo e que não se importe
de me emprestar os seus de vez em quando. Procura-se um
amor que divida a conta, mas não se incomode se,
algum dia, um ou outro tiver que pagá-la sozinho.
Que goste do cheiro de mato, mesmo adorando avistar do mirante
tantos prédios, ruas e histórias. Que saiba
diferenciar um não sensato de um sim submisso. Que
não encare o amor como moeda de troca e que não
faça da companhia um compromisso formal lavrado em
cartório.
Procura-se um amor que entenda
que, de tanto tempo, tanta história e tanta busca,
cansei-me de procurar e agora espero, serena, tranqüila,
que ele me encontre.
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Do jornalismo à literatura,
ou vice-versa, Ariadne Lima é apaixonada
por letras. Jornalista, defensora do jornalismo literário
(junção de suas duas paixões), procura
ver e descrever o mundo usando as lentes da poesia. E-mail: ariadnemlima@yahoo.com.br
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