OPPERAA
 
Baby Boom
     
 
 
     

Title: Elsie in a Blue Chair de Mary Cassatt, 1880

 

09/11/07
Blue Chair

Ando com sede e preciso respirar. Ando com sede de água potável e preciso respirar ares limpos. Ando com medo de me tornar uma saudosista nata. De gostar apenas de coisas e pessoas mortas. É que meus “ídolos” estão morrendo. Sinto falta de arte. De Autran, José, Cortázar. Hoje, me incluo na velha porcentagem daqueles que não andam tão felizes assim. Inclusive me incluo também na categoria daqueles que apenas não andam. Você aí, já parou pra pensar como andar faz sentido? Como é algo inerente à nossa condição de pessoa ativa, capaz, eficiente?! Eu que, há pouco, andava, corria, jogava, gingava, de repente, parei. Maldita medula que fica encravada no meio da espinha. Fez-me deficiente. “Alejada” de tudo e todos. Ah, como é difícil chegar à cozinha, ir ao banheiro, dar 5, 6,7 passos.

O importante é me incluir socialmente, não é verdade, meu caro leitor? Adaptar-me à nova situação, lutar contra as barreiras e encarar de frente o preconceito. Realmente, eu queria ser mais confiante, mais corajosa, engajada. Infelizmente é que ainda tenho a incumbência de renovar minha CNH, afinal de contas me tornei uma pessoa especial, e em detrimento desse meu destaque frente à sociedade, precisei mudar a minha documentação e, além disso, comprar um carro adaptado para pilotar por aí. Vou entrar na minha aeronave terrestre, descansar meus pés (que não sentem a dor do joanete que começa a crescer por causa do meu sapato novo) e acelerar com a mão direita. Vrummm...

Pior é saber que, no mercado, mesmo com o meu desconto previsto pela lei no ato da compra, o carro mais barato que encontro na fábrica custa R$38.000,00. Por que não posso ter um popular? Além de ser especial ainda tenho que ter um Honda Fit, um Peugeot ou Eco Sport? Ora, não venha me falar de acessibilidade. Francamente, já me bastam os buracos que tenho que me desviar ao tentar atravessar a calçada da portaria do meu prédio para a rua. Pelo menos, dentro do carro não serei foco de olhares alheios toda vez que quiser dar uma voltinha - a não ser pelo designer super arrojado daquele adesivo da “blue chair” que todos conhecem e que pregarei em poucos dias num carrinho que provavelmente pagarei em muitos anos.

Desculpe o desabafo e o baixo teor informativo e cognitivo do meu texto. É que meus “ídolos” estão morrendo. Sinto falta de arte.


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Brisa Marques é jornalista e atriz. Participou de dois curtas-metragens e em três montagens como atriz. É co-autora dos livros "Me conte a sua história 1" e "Me conte a sua história 3", publicados pela editora Saraiva. Acredita na arte, em qualquer uma de suas formas, como a essência fundamental do ser humano. Escreve todas as sextas-feiras.
Fale com ela: brisamarques@gmail.com



   
 

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