
13/06/08
E o Circo?
Porque lá o trabalho
é divertido, emocionante, arriscado. Porque as brigas
não passam de safanões no pé da orelha
pra esconder a queda. Porque o dinheiro, pouco, dá
pra fazer churrasco na segunda, comprar clave, roupa e sapato
novo.
Porque, como diz a família: “A gente sempre
tem a esperança de, na próxima praça,
ser melhor”. Porque a magia do circo existe, enquanto
houver quem nela acredite.
É assim que quero viver o circo que não me
canso de ver. Que é Imperial, e pros menos entendidos,
não é o da China. É do Eurico, da Bruninha,
do Juninho, do Michel, do Wictor, do Guilherme e da Sônia.
É da Sueli, que teve gêmeos pra compor a trupe
dos Brascuper.
Gente corajosa, que não tem medo do amanhã.
Família que sobe a lona, arma a rede, vende os ingressos,
a comida, o refrigerante e, ainda, tem tempo pra fazer a
maquiagem e subir no palco com a alegria de quem faz o que
gosta.
Hoje, as lonas desarmaram. E não foi por vontade
própria. É que o circo, assim como qualquer
outra “entidade” (se é que assim podemos
nomeá-lo) deve, burocraticamente, cumprir com as
regras, normas e leis, da cidade, do Estado e do País.
É o que a prefeitura está careca de saber
e não se cansa de repetir: que circo é sinônimo
de baderna, de barulheira, de bobeirada. Pra que serve um
palhaço, um malabarista, um trapezista? Pra que ficar
vendo criança brincar? Tem coisa mais séria
pra resolver: melhor deixar um terreno vazio, a preenchê-lo
com um bando de faz nada. Que tal pintar a Jacuí
ou quem saber colocar uns azulejos no túnel?!
Pois essa maldita 8.666 (ou quem quer que a execute) infelizmente
não foi elaborada com vistas às intempéries
do ser-humano e não compreende que cultura e educação
não se licitam... É quase ser enxotado da
própria casa. E nesse caso, nem casa há. É
no trailer que se vive, que se come, se dorme, se é
feliz. E contar com a sorte não é nada fácil.
Com a boa vontade das pessoas, pior ainda.
Longe de mim querer fazer um texto melodramático
ou de caráter apelativo. Quero apenas reforçar
a idéia de que o que precisamos é de incentivo,
de apoio concreto à arte de forma geral. Seja para
o circo, o teatro, a dança ou o que for. Não
adianta tapar o sol com a peneira, criar leis que camuflam
a real necessidade da população, que retiram
do Estado a responsabilidade maior para reservar às
empresas privadas o papel de agentes culturais e/ou sociais.
É um sufrágio que, sem dúvidas, prioriza
o público elitizado e os artistas reconhecidos. Estou
cansada de ouvir falar dos bons circos. Do soleil, do soleil
ou do soleil. O tradicional circo brasileiro foi esquecido.
A ele foi destinada a periferia, as cidades interioranas
e os bilhetes a 5 reais (reclamados por alguns pagantes).
E por mais que eu saia emocionada e radiante do Imperial
em todas as vezes que eu vou, tenho ainda o desejo de que
todas as pessoas do mundo compartilhem desse prazer que
não exige esforço, nem um vasto repertório
cognitivo. Apenas disposição, estímulo
e vontade.
Vamos ao Circo? Eu preciso me cobrir de arte.
Circo Imperial: Em São
José da Lapa. A 30 minutos de Belo Horizonte, na
estrada para Pedro Leopoldo. De quintas a sábado
às 20:30hs e domingo às 16hs e 20:30hs.
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30/04/08
- Sérgio
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25/01/08
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2007
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Brisa Marques é
jornalista e atriz. Participou de dois curtas-metragens
e em três montagens como atriz. É co-autora
dos livros "Me conte a sua história 1"
e "Me conte a sua história 3", publicados
pela editora Saraiva. Acredita na arte, em qualquer uma
de suas formas, como a essência fundamental do ser
humano. Escreve todas as sextas-feiras.
Fale com ela: brisamarques@gmail.com
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