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Calor, suor, vertigens, bactérias perfurando minha garganta, pepinos trabalhistas pressionando seu processo de criação.
 

25/06/07
ENTREVISTA / MONNO
Distante da monnotonia

Calor, suor, vertigens, bactérias perfurando minha garganta, pepinos trabalhistas pressionando seu processo de criação. Ele e seu serviço burocrático, eu e minhas obrigações gratuitas, jogando contra o tempo, em paradas bruscas, interrupções abruptas. Somente a arte poderia, em tal contexto caótico, na distância fria de um messenger, que separa um jornalista de merda – eu, Nilmar Barcelos – do jovem músico, aspirante a Neil Young, vocalista e guitarrista da banda de rock monno – Bruno Miari –, amenizar tal clima de tensão e aproximar duas pessoas até então desconhecidas. O melhor: todas as minhas perguntas e questionamentos tinham como inspiração a bela melancolia musical do Alice in Chains, as respostas dele não

Então, para começar eu coloquei o acústico do Alice in Chains para ver se a melancolia gera inspiração... Gosta de Chains? O que tem ouvido atualmentelmente?

Cara, eu acho massa o Chains! Os meninos da banda curtiam bem mais grunge que eu, na verdade, e começaram toda a coisa de banda tocando coisas grunge. O cd novo do Arctic me chamou a atenção, o Arcade... Mas tenho escutado muito Sonic Youth e Broken Social Scene. Mas coisas que andamos escutando os quatro é Interpol, We Are Scientists, o Youth mesmo, muito folk e por ai! Ah, o novo do Silverchair tá legal também!

Falando em Folk, gosta de Jeff Buckley? Dizem que o pai dele fazia um folk de primeira, mas nunca consegui pegar cds pra ouvir!

Putz, só mais uma.. o Tokyo Police Club me pegou de jeito também! Sim, sim! O Jeff é amigo das antigas! Me lembro, em 1994, acordando para ir à escola e vendo Grace na MTV. O Tim Buckley é massa também! Tenho umas coisas aqui e te passo depois então! E dessa turma tem umas coisas ótimas que ficam escondidas na verdade, saca... Tim Hardin, o James Taylor. De novos tem o Sufjan Stevens também, fodão. E sou cria do Neil young, cara! Ele é o rockstar que eu queria ser!

Você disse acima que a monno começou com o grunge? Explique-se! rs

Hahahah. Não foi isso que eu disse! Mas médio! Então, os meninos (Coelho - guitarra, Koala - batera e o Euler - baixo) tinham uma banda, o Tremor Void, que tinha uma pegada mais grunge, pois era a raiz dos caras. O Euler começou a tocar com palheta no monno, o Koala a scutar coisas mais dance, o Coelho eliminou a quantidade de dedo nos solos! Na monno amadurecemos bastante a coisa de como tocar os instrumentos

E como surgiu a banda monno? Existia algum objetivo inicial ou era só uma desculpa para tirar um som e se divertir?

Eles tinham o Tremor Void e eu o Novak, isso em 2005. Tocamos na obra juntos, as bandas, duas vezes e bombava. Dai o batera do Novak saiu e eu fiquei sem banda. Dai o Koala me liga querendo gravar umas coisas do Novak. Fizemos ainda um último show do Novak, em trio ainda, antes de rolar o monno. Dai o Euler e o Coelho entraram e já estavamos acabando de gravar o EP. Rolou! Foi na hora a parada. E é ótimo tocar com os caras, saca? Eles são ótimos instrumentistas e pessoas fodas!

O resto da banda era do Tremor e você no Novak, correto? O Novak acabou e o Tremor continuou? O Novak é um germe da monno?

O Novak é o germe do monno! Dai eles pararam o Tremor, porque já não estava fazendo sentido. Mas eles têm um disco todo gravado do Tremor Void, que falta mixar e tudo mais e que pode ser lançado num futuro, quem sabe.

Vocês tem alguma formação musical ou é tudo na base do it your self?

Letra b na veia. Aprendi a tocar sozinho e cantar Também. Tudo sozinho! Os meninos são mais estudados e tals.

Por que monno com “m” minúsculo e dois “ns”? Puro estilo ou existe um oceano de significados extremamente bem arquitetados com a finalidade de conquistar o mundo?

Cara, pode ser algo profético isso e estudado em algum cursinho em 2050, na Praia Bandeirantes, no Mangabeiras. Mas não, foi uma forma de tentarmos diferenciar o nome e por uma coisa de desenho tb.. sei lá! Bateu! Tem a ver com som, som simples. Uma amiga comentou uma vez que eu teria uma banda chamada monno. Coisas pequenas que dizem tanto!

A monno é uma banda relativamente nova, surgida em 2005. Como conseguiram reconhecimento e admiração de músicos como o tecladista Henrique Portugal, do Skank – banda, inclusive, que a monno abriu show -, indicação no site da Bizz, além de tocarem em grandes festivais de rock brasileiro como o Bananada, Pop Rock Brasil etc?

Cara, surreal também! Bem, acho que tem muito da nossa dedicação e querer fazer algo novo, porque desde que vimos que a coisa ia rolar com o EP, feito todo pela gente e mais dois amigos apenas, decidimos que faríamos sempre algo bem feito, com todos os cuidados necessários. Na garra do inicio de distribuir o EP quando lançou, para a midia e as pessoas saberem quem éramos, que a coisa começou a rolar. O Henrique recebeu pela Mariana Peixoto, do Estado de Minas, que sempre foi atenciosa com a gente, dai o programa Alto-Falante também curtiu e deram uma super força.. a coisa foi rolando! E nao esperávamos nada disso! Só queriamos fazer algo legal, que fosse verdadeiro, nosso. Mas não por sorte, acho que tudo isso é meio fruto da nossa dedicação.

As referências musicais da monno, como Radiohead, Sonic Youth, Beatles e Death Cab For Cutie, colocadas no myspace, além da clara referência que eu percebo de Strokes, dão a entender que, obviamente, a maior referência musical para a composição e produção de vocês é gringa. Como é possível fugir do grande emaranhado musical feito no Brasil? Não acham um desperdício?

Cara... acho que essa observação só fazia sentido em 1993. Hoje estamos antenados na música do mundo, e a do Brasil é uma delas. Lógico, o EP reflete um momento nosso, aquele momento. Hoje estamos pré-prouzindo nosso próximo disco, que tem das mais variadas referências. Lógico que essas foram as bandas que nos mostraram muitas possibilidades e caminhos, mas o Brasil mostra demais para a gente... E, saca o que eu acho estranho, pensando aqui? São bandas que fazem um som super inspirado no Brasil, levadas, batidas, e cantam em inglês. Acho o caminho inverso mais interessante, pois é infiltrar novas experiências e informações para a colonização.

O que tem ouvido de música brasileira?
Cara, muita coisa aliás! O Tom e a Elis estão furado no ipod. Muito Chico. Coisas dos anos de 1980. Mikinhos Amestrados, Metro.

A melancolia das letras tem fonte no Tom então?

Hummm, talvez hoje! Mas não tanto! hehe

E em relação a produção das letras, existem referências literárias ou se resumem a relatos do cotidiano, experiências pessoais?

Ambos. Mas só para fechar o Brasil, tem muita coisa independente foda. O Superguidis, Ludovic, Vanguart, Ecos Falsos, Mqn, Violins, Rockz! Sobre as letras, é meio uma catarse. Cara, pesquiso música pacas! As letras procuram um diálogo, abrindo as possibilidades de interpretação. E coisas bem descritivas. Romances, Henry Miller, Beat, Leminski.

Como foi o processo de gravação da EP de vocês e a posterior produção do clipe de #1, com o diretor Conrado Almada, do excelente clipe de Não mais, do Pato Fu?

Foi fodasso. O conrado é um cara muito massa, que pegou de cara a idéia do clipe no primeiro papo que tivemos com ele. Apostou legal no clipe mesmo, dai foi facil fazer né? O cara ficou brooother nosso!

E como conheceram ele? Como surgiu a oportunidade dele dirigir o clipe?

Ligamos pra ele, demos o cd e ele curtiu de cara e pôs uma galera foda para fazer junto!

Como tem surgido essas relações com estúdios de gravação, diretores renomados de videoclipes, programas respeitados nacionalmente, como o Alto Falante, da Rede Minas, e até mesmo bandas nacionais, como os cariocas do Moptop e os porto-alegrenses do Superguidis? As parcerias são o melhor caminho quando não se tem o investimento e suporte de uma grande gravadora, por exemplo?

As relações acabam acontecendo naturalmente, com todo o trabalho de divulgação que acontece e acho que também por essa nossa proposta de coletivizar o trabalho. Somos muito curiosos com toda a coisa do cenário musical e o que antes parecia longe - como conhecer pessoas de programas, ótimos diretores de cinema e bandas bacanas da atualidade – descobrimos que estavam mais perto que imaginávamos. Daí a coisa flui, porque todos têm um mesmo objetivo que é fazer e divulgar bons trabalhos. Quando as pessoas acreditam no que fazem ai fecha o ciclo. Mas é ótimo poder conhecer essas pessoas, pois são pessoas muito bacanas e cheias de novas idéias, conceitos e aí vai. Tem muita coisa acontecendo para todo lado do Brasil e hoje muito mais sendo feito que as próprias gravadoras. Ë um momento interessante.

Embora com uma agenda de shows agitada e uma assessoria de comunicação bem estruturada, acredito que vocês ainda estão longe de viver de música. Como conciliam, então, as outras esferas da vida? O que cada um é, além de músico da monno?


É, um bocado longe ainda e também achamos que isso virá com o tempo, como qualquer outra profissão, pois, antes de tudo, é um baita investimento!

Eu e o Euler somos formados já e o Koala e o Coelho estudam ainda. O Euler e o koala trabalham firme no estúdio o dia todo, produzindo sem parar, eu trabalho com meio ambiente e o Coelho anda estudando um bocado música. Mas, religiosamente, trabalhamos o monno diariamente, pois queremos ser monno fulltime!

A primeira vez que escutei o som monno foi no Lapa, quando abriram o primeiro show da volta do Udora ao Brasil. Uma das coisas que mais me chamaram atenção foi o fato de o som geral de vocês estar tecnicamente muito nítido em relação ao deles, que só se acertou por volta do meio do show. Resumindo tudo: o som do Udora estava mono e o som da monno stéreo. Como é estruturado essa parte nas apresentações de vocês? Em casas de espetáculo maiores vocês têm um suporte técnico especializado e em casas mais undergrounds vocês mesmos que dão conta do recado?

Cara, é um cuidado bem grande que temos com isso, pois gostamos de trabalhar bem as texturas sonoras e tudo mais. Achamos essa parte bem importante mesmo, por isso todo o cuidado. Nossa sorte é contar com bons amigos e profissionais por perto, que são entusiastas do monno, o que facilita muito nossa vida pois acabam como um quinto elemento na banda. Sempre que podemos, usamos desses amigos e em shows maiores principalmente. Mas sempre que podemos levamos para os clubs também, porque é difícil tirar som desses lugares, o que é importante. Mas tem lugares, como A Obra, que damos conta sozinhos porque somos velhos de guerra já!

Qual o lugar ideal para shows? Qual lugar a monno se sente em casa tocando e, após o show, mesmo melados, sentem-se realmente felizes por terem "gozado"?

A grande maioria das vezes é assim pra gente. Tocar realmente é a melhor parte do processo e infelizmente a mais curta! Varia de lugar e isso varia com o público, pois é ele que nos deixa a vontade ou não.
Tocar n'A Obra é sempre uma alegria, 200 pessoas, casa cheia, amigos, barulho e tudo mais. Mas tocar no Tom Brasil em sampa com o Skank foi divino. Saímos extasiados!

Qual a expectativa para o Projeto Música Independente, na sala João Ceschiatti, da Fundação Clovis Salgado? Vocês conseguem dimensionar a importância dessas iniciativas políticas e culturais para bandas independentes?


Estamos ansiosos pois estamos preparando várias coisas bacanas para o show que acontece nos dias 25 e 26 de junho. Pra gente é um orgulho tocar no Palácio das Artes pela grandeza do lugar, mesmo a Ceschiatti sendo para 150 pessoas. Mas é o clima que nos fascina.

Achamos que esse tipo de iniciativa do governo tem de ser adotado com mais freqüência no cenário rock mineiro. Em todo o país pipocam iniciativas do tipo e cidades como Goiânia e Cuiabá são referências nisso. O melhor, tudo com apoio dos governos. O cenário do rock independente fomenta a economia além de gerar cultura. Minas tem de ter uma visão menos ‘tambor’ da música, deixar o tradicionalismo de lado e buscar novas vertentes. Existe muita coisa bacana feita em BH e Minas no rock e quase não é visto, infelizmente.

O rock nacional tem e teve várias bandas mineiras como expoentes e essa abertura para esse gênero de banda, num evento como o Música Independente, é a possibilidade de descoberta de uma próxima leva.

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Nilmar Barcelos é uma mentira contada, uma piada de mal gosto, um erro de roteiro, uma torta reta, uma rota morta, uma grande farsa. Em partes jornalista, embora o todo gonzo. As vezes feliz, freudiano sempre. Puramente obsceno. Nietzschiano, mas nem sempre humano. Escreve todas as sextas no Retalhos Culturais.
E-mail: nilmarbarcelos@gmail.com

   
 

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