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"Se uma pessoa é mais "tensa" aproveitamos para "soltá-la" Thereza Piffer, diretora do Grupo Sensus

Foto: "O Corredor", óleo sobre tela e madeira, 93 x 73 cm, de João Simões Lopes Neto

 

13/08/07
ENTREVISTA/ THEREZA PIFFER
Teatro da narrativa imaginária

por Brisa Marques

Ela criou um grupo de teatro sensorial que utiliza grandes nomes da literatura latino-americana, como as obras de Jorge Luiz Borges, Eduardo Galeano e Julio Cortazar. Os espetáculos que atriz e diretora Thereza Piffer criou,deram origem ao Grupo Sensus que atua através da representação interativa e a sensibilização do público com a utilização de sons, aromas, toques e objetos que atiçam o imaginário dos espectadores, permitindo que cada indivíduo tenha uma interpretação única da apresentação. A técnica do Grupo Sensus , ainda se apresenta como um projeto social importante por conseguiram que deficientes visuais passem a ter acesso aos espetáculos teatrais. Em entrevista ao site O Binóculo, Thereza conta sobre os conceitos dos espetáculos e o universo literário de composição das intervenções do Sensus. Confira aí.

Como você conceitua as apresentações do grupo? São performances ou peças?
São performances, justamente por não existir "dramaturgia". Nos trabalhos, o que usamos é uma coletânea de textos ( poemas e poesias ) de diversos autores seguindo um "tema" , mas sem começo meio, fim ou qualquer linha dramatúrgica.

A apresentação varia de acordo com o grupo de espectadores? Na sua opinião, eles atuam como co-autores?
Há um cuidado específico com cada indivíduo. "Percebemos" e só então "atuamos". Se uma pessoa é mais "tensa" aproveitamos para "soltá-la". Se está vestida ou penteada de uma maneira qualquer, respeitamos isso, sempre tomando cuidado com o indivíduo. A idéia é "acolher”, "acarinhar", jamais "expor".

O trabalho do Grupo Sensus diverge-se de outras formas teatrais também por não trazer a idéia pronta da linguagem audiovisual. Você acha que é possível traçar um paralelo com o universo literário, no qual cada espectador constrói a narrativa de acordo com seu próprio imaginário?
Sim. As performances nasceram de um outro projeto do qual fui convidada a participar em 2005, intitulado "Literatura além do papel" no CCBB - SP. Como estimular a vontade de ler que não pelo método costumeiro de se "abrir um livro"? Estimular seu imaginário foi a minha saída. Exatamente o que uma boa obra literária nos proporciona.

Em "Sensorial", por exemplo, os olhos dos espectadores são vendados. O que, de certa forma, os leva para um outro patamar sensitivo. Há uma valorização de outros signos, que não os visuais, do espetáculo? Qual o processo de escolha desses signos?
Sim. O olfato, o paladar o tato... Todos os sentidos, menos o visual, são estimulados. O processo de escolha surge justamente do que o texto nos traz. Por exemplo, na SENSORIAL, escolhi os textos que me dessem a oportunidade de trabalhar estes signos. Já na HORIZONTAL, foi ao contrário. Primeiro escolhi os textos que tivessem a ver com o tema (sono, delírio, sonho, etc) e depois fui pesquisar como poderia atuar sensorialmente em cada texto.

Como acontece a relação dos textos com o processo de criação do ator? Varia de acordo com o espetáculo?
Depois da curadoria que é feita por mim, me reúno com o grupo e distribuo os textos conforme a identificação dos atores com os mesmos.

A experimentação com o público, só vem depois do processo concluído?
Sim

Como tem sido essa experiência contemporânea reflexiva (o parar para sentir) em meio ao cotidiano acelerado, programado e turbulento das pessoas?
Maravilhoso. As pessoas saem extasiadas das performances, redescobrindo seus sentidos e percebendo como a vida de uma grande cidade pode nos tornar distantes de nosso imaginário sensitivo.

De onde surgiu a idéia de abrir espaço para um teatro social, que possibilitasse a deficientes visuais a fruição da obra bem como é para o resto do público?
Comecei trabalhando com textos de Borges, Cortazar e Galeano. Me encantou a idéia de mostrar o universo imaginário destes autores e como Borges, em especial, trabalha o realismo fantástico. Há também uma alusão à sua cegueira, resolvi juntar a obra ao autor.


Vocês têm apresentações previstas fora de São Paulo?
Sim. Infelizmente ainda não muitas. Mas iremos nos apresentar em setembro em algumas unidades do Sesc no interior de São Paulo, além de uma parceria com o Museu do Diálogo no Escuro em Campinas onde utilizaremos atores deficientes visuais.Pretendemos, conseguindo apoio, viajar e levar o Sensus para todo o país e também para o exterior


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Brisa Marques é jornalista e atriz. Participou de dois curtas-metragens e em 3 montagens como atriz. É co-autora dos livros "Me conte a sua história 1" e "Me conte a sua história 3", publicados pela editora Saraiva. Acredita na arte, em qualquer uma de suas formas, como a essência fundamental do ser humano. Escreve todas as sextas-feiras.
Fale com ela: brisamarques@gmail.com



   
 

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