29/11/07
Entrevista Zezé Di Camargo
e Luciano
Duas horas de sucesso em
BH
Antes da apresentação
em Belo Horizonte no último final de semana, a dupla
conversou com O Binóculo sobre negócios, carreira,
música, filme, novas duplas e até da crítica
musical
A música sertaneja
ganhou espaço na mídia no início da
década de 1990. De lá para cá, o estilo
musical, até então vindo em sua maioria do
Centro-Oeste, ganhou vários adeptos e, conseqüentemente,
críticos. É impossível não se
lembrar de Zezé Di Camargo e Luciano quando o assunto
é musica sertaneja. Em abril de 1991, dois meses
após o disco de estréia, chegaram ao topo
da parada com a música É o amor, Zezé
Di Camargo e Luciano venderam três discos por cada
minuto passado desses 16 anos, totalizando 24 milhões
de CDs espalhados pelo globo.
Em pesquisa realizada pelo
instituto Datafolha em julho deste ano, Zezé Di Camargo
e Luciano foram indicados como os artistas mais populares
do Brasil. Eles dividem a liderança do título
em questão com a banda Calypso. O Datafolha entrevistou
cerca de duas mil pessoas em 135 cidades do país.
A dupla guarda no currículo dois Grammys latinos,
um como Melhor Álbum de Música Sertaneja (2004)
e outro na categoria de Melhor Álbum de Música
Romântica (2005). Ainda em 2004 levaram prêmio
como Melhor Dupla da ABL (isso mesmo, ABL - Academia Brasileira
de Letras).
Para resumir os 16 anos de
sucesso, a dupla viajou pelas principais capitais do país
com o show "Duas horas de Sucesso", referindo-se
ao tempo exato da apresentação. E
foi antes do show em BH que a dupla conversou com O Binóculo.
Zezé se mostrou ligado
ao interior quando disse ser criador de gado em sua fazenda,
e que adora passar as férias por lá. Ao contrário
do irmão, Luciano se revelou urbano também
ao dizer suas preferências em investimento no mercado
imobiliário e numa empresa do ramo alimentício.
O Binóculo - Falando
da carreira artística agora, o que o filme "2
filhos de Francisco" representou na vida profissional
de vocês? A dupla foi mais respeitada pela mídia?
Zezé - Não
só pela mídia, mas pelo público em
geral. Os críticos de Zezé Di Camargo e Luciano
passaram a ver com outros olhos, não só a
dupla, mas também o estilo musical. Todos que assistiram
o filme, fãs ou não da música sertaneja,
viram que não chegamos aqui à toa, que o nosso
caminho não foi fácil. O filme foi muito bom
para mostrar nossa origem, a forma que nós crescemos
e que nada foi de graça.
Luciano - O respeito
veio por parte da imprensa e de outras classes que não
conheciam a dupla. O melhor disso tudo foi ter a oportunidade
de conhecer vários lugares, assistir o filme em cinemas
diferentes e ver como as pessoas se emocionam com a história
da dupla.
O Binóculo - É comum ver pessoas que achavam
o sertanejo um estilo musical "brega", e que hoje
lotam os shows de artistas que estão começando
e que ainda nem foram descobertos pela mídia. Isso
acontece pelo fato da música sertaneja ter se espalhado
de forma positiva ou pelo modismo e garantia de ver pessoas
"bonitas" nos shows?
Zezé - Não
podemos rotular o sertanejo porque isso acaba prejudicando
o artista. As pessoas vão cada vez mais aos shows
das duplas, mas isso se deve à qualidade musical
que atende ao público, que está mais exigente.
O Binóculo - E as revelações do
sertanejo, como o mercado musical aceita as novas duplas?
Elas estão "pop" demais ou procuram manter
a característica da música sertaneja?
Zezé - O mercado
está atendendo a demanda do público. Belo
Horizonte é um exemplo de lançar duplas sertanejas
para todo o Brasil, como César Menotti e Fabiano
e tantas outras. Minas ocupa o lugar que na nossa época
era de Goiás, que lançou várias duplas
de sucesso. Hoje existem vários tipos de duplas.
O que elas estão fazendo é espalhar a música
sertaneja de forma que cada vez mais pessoas passem a curtir
a música.
O Binóculo - No ano passado, vocês gravaram
um disco com a participação de Chico Buarque,
como foi isso?
Zezé - Foi ótimo,
mas convidar o Chico foi arriscado, não queria parecer
que ficamos metidos.
Em entrevista ao site Terra no ano passado, a dupla demonstrou
um certo descontentamento com a imprensa especializada,
especificamente com os canais MTV e Multishow. Na ocasião,
Zezé disse que estes canais acham que ditam moda,
e que só falam do mundinho alienado deles.
Mesmo sem o apoio dos canais musicais, a dupla conseguiu
se tornar referência em música sertaneja e
espelho para novos talentos, atingindo os 24 milhões
de cópias de CD vendidos.
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Marcello Oliveira é
jornalista e escreve aqui todas as quintas. Fale com ele:
marothavio@yahoo.com.br
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