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A democracia é adotada na grande maioria dos países, inclusive no Brasil, país que tem lá as suas peculiaridades. E como saber como tudo isso funciona na prática?

 

14/12/07
Democratas


Ah, democracia! Forma de organização política aparentemente perfeita. Pessoas afins elegem um representante, um porta-voz de opiniões, um procurador para exercer os atos necessários à melhoria das condições de vida de seus representados, objetivando sempre o bem de toda a população. É adotada na grande maioria dos países, inclusive no Brasil, país que tem lá as suas peculiaridades. E como saber como tudo isso funciona na prática? Resumirei então, em três simples parágrafos as etapas percorridas.

Primeira etapa, o cidadão. Pessoa comum de hábitos corriqueiros: Driblava o Imposto de Renda com dados duvidosos ou quem sabe declarava-se como isento, mesmo não sendo; recebia o troco do pão errado para mais com um sorriso afável ou até fosse capaz de trocar umas etiquetas para levar picanha a preço de alcatra; oferecia um café para o policial esquecer aquela infração de trânsito despropositada; pagava um despachante profissional para não ter que enfrentar a longa fila do Detran; comprava DVD, vídeo-game, celular e outros eletrônicos sem nota para dar uma força aos camelôs; agilizava o pedido do cliente gente boa que sempre lhe trazia um presentinho... De título nas mãos, era um cidadão capaz de votar e ser votado. Não satisfeito somente com o simples ato de votar, decide candidatar-se.

Segunda etapa, o candidato. O cidadão comum procura um partido consoante com suas ideologias ou, na maioria dos casos, de acordo com fórmulas matemáticas que revelam as possibilidades mais favoráveis. Escolhido como candidato pelo seu partido, ele passa a buscar colaboradores financeiros para sua campanha. Consegue alguns trocados com familiares, mas é naquele amigo empresário do aço, dos transportes, da construção civil ou da indústria farmacêutica, que encontra a fonte de recursos suficientes para sua campanha. Para isso, compromete-se a lutar com unhas e dentes e maletas pelo bem do aço brasileiro, das estradas nacionais, das moradias populares e da saúde do povo deste país. Já de cofres cheios e munido de camisetas, santinhos, bonés, dentaduras e ambulâncias, ele realiza incursões interioranas para conhecer as agruras daquele cidadão miserável que não pôde lhe dar nem um vintém. Promete então sanar as amarguras de todos caso seja eleito como representante dos desamparados.

Terceira etapa ou, a glória do candidato eleito pelo povo e para o povo. Assinado o termo de sua posse, ele começa a receber um salário de vinte e poucos mil que, durante o seu curto mandato, não será capaz de cobrir os milhões gastos com a candidatura. E por que cargas d'água ele se dá a tanto trabalho? Pelo bem do povo e por gratidão aos amigos empresários. Como bom representante, começa a agir desde cedo: libera suplementações financeiras para a estrada que liga Pastorinha do Norte a Andorinha do Sul; propõe projeto de lei liberando a exploração de minério em áreas de proteção ambiental; vota contra a liberação de remédios genéricos de baixa qualidade. Entretanto, a coisa não é tão fácil como parece, o seu voto sozinho tem pouco valor. Engajado, une-se a outros representantes. Cria vínculos de amizade, companheirismo e paternalismo. E, mesmo assim, ainda vê-se acuado perante alguns conflitos de interesse: estrada de ferro para escoamento do aço ou novos trechos de rodovia? É aí que surge a figura dos articuladores. Pessoas de bem com poderes de conciliação mágicos. Capazes de tirar cartas da manga e dólares da cueca para resolver os mais pavorosos embates políticos. Mas, quando tudo parece resolvido, eis diante do plenário, os falastrões. Uma minoria de representantes eleitos sem compromisso algum com os setores econômicos, capazes de desperdiçar horas lutando por utopias sociais. Exibem-se na TV, são sempre do contra e insistem em aumentar o déficit público, propondo aqui e ali aumentos absurdos para o salário mínimo, construção de escolas em rincões desprezíveis, quebra de patentes de remédios, aumento dos leitos em hospitais, dentre outros desvarios econômicos. Todavia, graças ao poder da bela democracia, essa minoria mal-educada e barulhenta é voto vencido, não sendo capaz de atrapalhar as tão bem arquitetadas engrenagens do nosso sistema legislativo.

E é por isso, pela indignação e pelo correto funcionamento das engrenagens, que faço coro com o politizado povo brasileiro: “Cansei! Agora eu sou democrata!”.


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Túlio Gonçalves é formado em Administração de Empresas e é Cozinheiro, título conferido pelo SENAC-MG. Amante da culinária versátil, tem a Administração como hobby e a literatura como válvula de escape. Adora embaralhar palavras, rimas e pensamentos... e fazer rir, e chorar e sorrir. Escreve aqui a cada dois meses e mantém sempre atualizado o site www. feitoculinario.com. Fale com ele: tuliogoncalves@feitoculinario.com



   
 

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