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Orkut Buyukkokten criadorde um dos maiores sites de relacionamentos do planeta. No Brasil chega a ter mais de 20 milhões de usuários. Agora a guerra pela liderança continua com o surgimento a explosão do FaceBook.

Foto retirada daqui:
flickr.com/photos/alessandromendes/440413273

 

03/10/08
Orkaos!

Se, por um lado, as tecnologias ajudam a quebrar fronteiras e a aproximar tudo e todos, de outro, as novidades não se encontram prontas para oferecer suporte ao despreparo psicológico dos seres humanos. E que inovação resistiria à complexidade e aos efeitos do comportamento rasteiro dos homens diante do que, sem ressalvas, poderia ser uma revolução positiva da comunicação?

O Orkut, talvez, seja o melhor exemplo de como a loucura humana não tem fim e de como as ferramentas virtuais colaboram para acentuar as mais bizarras e insanas reações. Hoje, por exemplo, somos obrigados a assistir à manifestação de usuários que clamam pela privacidade, bradando ao mundo que apagam suas mensagens e que os curiosos não são bem-vindos. Por outro lado, os mesmos simpáticos estão em fóruns e comunidades cujo propósito é, justamente, revelar aos olhos alheios que lá estão, seja tirando sarro, seja mandando recados, tais como “Já superei...”, “Sou legal, não tô te dando mole” ou “Sua inveja faz a minha fama”.

Mexer com o ego e com a vaidade do ser humano é tão perigoso que nem ele se localiza. Redes sociais aproximam privado e público de tal forma que nem mesmo os que se revoltam com a exposição têm clara idéia do que desejam esconder. Se, ao mesmo tempo, uma pessoa não pretende ser um foco noticioso, mantendo, por isso, seus contatos e relacionamentos longe do alcance de bisbilhoteiros, por outro, os mesmos sabichões adoram que seus vídeos, links, fotos e recomendações textuais de perfil traduzam ou indiquem as pessoas que verdadeiramente são. Informações que, no fundo, uma vez preenchidas, interessam apenas aos outros. Ou você precisaria ler o “quem sou eu” de seu perfil para saber quem é?

Relacionamentos, então, já deixaram a esfera do momento DR (Discutir a Relação) para priorizar a hora de DRV (Discutir a Relação Virtual). É incrível como a exposição de fotos e o simples contato em uma rede social mexem, de forma doentia, com os sentimentos. Por uma foto, uma cor de texto, um desenho ou frase, pessoas se mostram dispostas a brigar, por já associar conversas virtuais a traição ou a um sinal de que ele/ela “não me ama mais”. E a existência do DRV se faz mais evidente no momento em que casais ou se retiram definitivamente do site, para evitar conflitos, ou então passam a compartilhar um único e dúbio perfil (“Não existem segredos entre nós. Afinal, somos um só. Não é, amor?!”).

É fato que sempre tivemos e teremos contatos externos aos nossos relacionamentos. Mesmo porque personalidades não se fundem. Ao contrário, complementam-se. Sempre. O problema é que, no momento em que a exposição de privacidade torna-se, simultaneamente, objeto de delírio egocêntrico e reflexo de invasão de espaço, passamos a flutuar sobre os limites de nossas próprias identidades e de nossas relações de confiança. E uma simples rede social, que teria o mero propósito de resgatar e aproximar contatos, passa a representar um novo atalho para o caos.

O ponto é que passamos a discutir mais por cada vez menos. Hoje, é indiscutível, embora não menos incompreensível, o peso de um questionamento de contato virtual. No referido site, a essa altura, as pessoas pensam, realmente, ter o direito de confrontar seus parceiros até saber quem é aquela pessoa da lista, por que ela está lá e o que foi respondido para que ela, num atrevimento inacreditável, enviasse um “sorriso”. Em meio a isso, é sempre bom lembrar, estão ameaças de término de namoro, exigências e pressão. Será mesmo que a tecnologia pretendia enfurecer e fragilizar a relação dos enamorados? Você acredita, de fato, que uma pessoa não pode ter um contato privado e, com ele, manter tão-somente uma conversa amistosa?

Talvez seja tudo uma impressão errada, um excesso de má vontade. Enfim, tudo pode ser. Mas que o virtual nos fez desandar em nossos valores e referências de confiança, fez. É possível aprender a lidar com isso? É claro que sim. Mas não sem antes conhecer e admitir os exageros de nossas próprias reações. Só assim o sorriso que “aquela fulana” mandou para o seu namorado deixará de ser um indício de traição e, quem sabe, mais adiante, passará a ser um reservado diálogo sobre a sua festa-surpresa. Aliás, não foi esse o recado que você mandou para ele ao entrar no fórum “Surpreenda-me”? Ah, estou violando a sua privacidade ao observar suas comunidades? Desculpe-me...

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2007

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Guilherme Amorim é um mineiro simples, metido a organizado e que sobrevive sem estantes. Além de devoto da Mega Sena, irônico e canhoto fervoroso, é jornalista e criador/apresentador do programa Espátula, veiculado na iRadio. Escreve mensalmente na coluna Trejeitos. E-mail: guilbh@gmail.com

   
 

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