17/08/07
Mais um pouco de André
e Manoela, um pouco de nós, perdidos em nós
mesmos e no medo de amar...
Manoela,
O meu silêncio te permite imaginar respostas. Você,
com essa mania de colorir o dia, deve ter inventado realidades.
Essa sua mania de inventar e idealizar! Foi essa sua mania
que nos fez tão próximos e ainda assim tão
distantes... É como se eu nunca conseguisse te alcançar...
Nunca estivesse próximo de fazer seus sonhos realidade.
É uma frustração difícil de
explicar.
É
difícil explicar também porque não
te escrevo, mesmo tendo ainda muito a lhe dizer. Não
posso enfrentar o medo de sentir esse amor maior que você
me faz experimentar. É muito arriscado. Eu cheguei
perto demais de você, e agora estou me punindo. Meu
mundo tem trevas demais pra você, minha menina! Meu
mundo tem trevas demais para o seu sorriso. Sua alegria
é grande demais pra mim, você é grande
demais!
Fiz da minha vida meu cárcere e não posso
permitir que você venha agora me libertar. Eu estou
preso dentro dessa vida que não me deu escolha. Fico
aqui, estático, pelo medo e pelo desespero, porque
eu não sei mesmo o que fazer com tudo que você
me faz sentir. Eu vou me desvencilhar de você, por
mais que isso me doa, tenho que manter firme a minha decisão
de não voltar. E isso será tudo que você
terá de mim, o meu silêncio e a minha indiferença.
O que você não poderá ver, minha menina,
o que você não poderá ver ou compreender
é que ainda não partimos. Você está
comigo, em cada lugar que visitamos, em cada momento que
eternizamos, nos risos e nas conversas com as quais varamos
as madrugadas. E, principalmente, você permanece em
cada parte de mim que eu descobri só sua.
E eu tento te convencer que a felicidade é uma ilusão,
minha menina, um luxo que não posso me dar, porque,
senão eu me acostumo!... E se depois você for
embora? Não... não... Melhor que eu vá.
Porque um dia você vai se cansar de brincar de paixão
comigo, mesmo que você me diga que seu amor tem raízes
profundas e antes que você continue eu peço
que se cale, suas palavras me doem como o meu silêncio
lhe atinge.
Eu prefiro mesmo fugir, você se apaixonou por um covarde.
Prefiro fugir e me esconder por detrás dessa distância
intransponível e fria, aonde você não
poderá me alcançar. Me desculpe, mas longe
de mim você estará mais segura... Como coisa
me embruteci tanto que sou incapaz de ser feliz. Eu não
saberia lidar com você e seus sonhos, tão maiores
que minhas mãos!
É
por isso que eu prefiro seguir mantendo as portas fechadas.
O peito vazio do que não deixo entrar, e transbordado
do que não permito extravasar.
As
comidinhas coma-as, ou irão estragar. Os perfumes
e sabonetes, use-os, ou irão passar da validade.
Jamais desfrutarei de seus encantos sensoriais, não
porque não os aprecie, não porque não
os deseje, mas porque não posso me permitir desfrutá-los.
Como irei manter minha postura impassível? Como irei
manter meu respeito, sujo de calda quente de chocolate?
Você me tira do sério, minha menina, e isso
não posso permitir. Aliás foi por isso que
você me perdeu, não por você ter me amado
demais, mas porque eu te queria, e ainda te quero, infinitamente!
E, por favor, não me venha com essas margaridas,
não adianta brincar de bem-me-quer-mal-me-quer,
porque independentemente do resultado final, não
adianta sonhar. Eu não nasci para amar.
André.
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Tenho
dó
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Thaís
Palhares é
belorizontina de nascença. Palhares de pai. Fernandes
de mãe. Thaís de comum acordo. Jornalista
por opção e por convicção. Escritora
por paixão. Viva, por isso, incansável. Escreve
aqui todas as sextas-feiras. Fale com ela: thaisgalak@gmail.com
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