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11/05/07
Questão de fé

Fabio Pozzebom/ABr
Isso de fé é uma coisa muito engraçada. Ou você tem ou não tem. E, se tem, não adianta explicar porque tem. Se não tem, não tem e pronto e acabou. Não adianta nem São Thomé aparecer que você não vai crer. Tem gente que diz até que a fé move montanhas, mas tem gente que jura que elas tão no mesmo lugar há tempos.

E mesmo quem tem fé diz que santo de casa não faz milagre... Bom, nesse quesito o Brasil até que tá bem. Numa terra de malandros, santo é artigo em falta no mercado. Seguindo essa lógica, era pra pipocarem milagres por aqui, mas acho que os santos não sobem o morro, não vão ao Congresso, não conhecem o SUS, tampouco a seca do Nordeste...

Mas no país com a maior população católica do mundo, a fé até enche barriga. E enche os olhos também. Porque é bonito ver o povo se mobilizando, se manifestando, indo às ruas, como em época de copa do mundo, pra receber o Papa. Um Papa longe de ser carismático, diga-se de passagem. Mas um Papa que trás um pouco de fé e palavras de dias melhores pra uma gente castigada com a seca de perspectiva. Não importa se é Bento, João, Lucas ou Matheus, é alguém que fala em nome de Deus...

Um Papa que chega para abençoar os esquecidos. Para trazer para o país da sacanagem e do carnaval um santo sangue do nosso sangue. Para trazer um pouco de vida para gente que chegou ao mundo com humanidade na veia, mas que foi perdendo um pouco dela a cada dia... Vem fazer um dos nossos, Santo. É claro que isso não dá saúde e educação, mas alivia o peso de uma gente que nasce na falta de exemplos. Gente acostumada com o cheiro de pizza, com políticos que perpetuam a miséria em troca de alguns milhões em um paraíso fiscal.

É um Santo de casa, talvez não faça nenhum milagre aos nossos, como diz o ditado, mas é Santo feito de verde e amarelo. Nascido e criado na nossa terra, uma terra desacreditada e mal cuidada, mas nem por isso infértil de gente de bem... Um Santo nascido entre os esquecidos, nascido entre essa gente de mãos calejadas e alma doída. Um Santo para falar do que esse povo tem fome, do que esse povo tem sede, do que esse povo tem medo... Um Santo para falar da esperança desse povo de fé...

Essa gente que tem a “estranha mania de ter fé na vida” está na chuva enquanto o Papa, escoltado por um forte esquema de segurança, os abençoa. É uma cena contrastante que, aos meus olhos tem um quê de melancolia, porque me parece que o Papa abençoa, mas não se envolve. Sua batina permanece branca, mas suas palavras fazem com que essa gente se sinta um pouco mais perto do céu... Eis o mistério da fé.


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Thaís Palhares é belorizontina de nascença. Palhares de pai. Fernandes de mãe. Thaís de comum acordo. Jornalista por opção e por convicção. Escritora por paixão. Viva, por isso, incansável. Escreve aqui todas as sextas-feiras. Fale com ela: thaisgalak@gmail.com

 

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