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Outra bala perdida. Deu no jornal. Isso agora deu pra ser comum. As balas se perdem todos os dias. Nunca tive o azar de conhecer uma, mas elas se aproximam numa velocidade assustadora! Pobres balas perdidas! Tão desatentas! Nunca sabem pra onde vão! E se soubessem? Se soubessem, talvez não fossem... Quando foi que as balas se perderam? Quando foi que caíram na vida, deixando pra trás filhos, emprego, família e saíram numa correria desatinada buscando sabe-se lá o que? Bons tempos aqueles de balas encontradas! Tempos melhores ainda aqueles de balas não nascidas, não disparadas. Mas os tempos são outros. As balas agora saem loucas por aí, sem eira nem beira, como que fossem comprar um jornal, tomar um chopp num bar, levar os filhos pra passear. E elas vão tão rápidas, tão ligeiras!... Mundo triste esse de balas perdidas, encontradas, minutos mais tarde, de fronte a sonhos perdidos e vidas que não mais são... Só outra bala perdida. Deu no jornal. Uma bala dessas que saem correndo por ai, numa quinta feira qualquer. Essa corria pela Cidade Maravilhosa, numa tarde de sol. Bala experta, de swuing e sangue bom. Bala carioca, anos de praia. Bala de Rio 40ºC. Num Rio de garotas de Ipanema, de samba, de Vinicius e Jobim. Deu no jornal que ela correu assustada do encontro da polícia e do assaltante. Correu tanto que se perdeu. Ora! Claro que se perdeu! Senão não seria perdida e personagem dessa história que eu preferia não contar. Pois bem, voltando, essa bala estava junto com outras, mas na correria cada uma foi prum lado. Perdida das demais, sem saber pra onde ir, nossa pobre bala perdida foi se encontrar na inocência da menina. Resgatar a sua, quem sabe? Nunca ninguém vai saber... Porque mais cedo do que imaginava, a bala mais perdida que nunca, encontrou seu destino: Uma menina, ainda não mulher, com sonhos planos que perderam espaço pra bala que, antes de se alojar olhou pra trás e viu o caos. Homens contra homens, numa guerra de civis. Homens contra homens, tão perdidos quanto ela, a bala. E ela alojou-se como quem busca abrigo no peito do desconhecido. E eu? Eu pergunto: quando foi que as balas se perderam? Pergunta pra ser respondia na mesa de bar, pergunta reduzida a filosofia de buteco. E sexta é um bom dia pra isso... Sexta é dia internacional do buteco, assim com u mesmo. Mas confesso que ainda tenho dúvidas se vou terminar a semana no chopp gelado, porque a bala perdida pode vir quente.
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