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29/06/07
Descontentamento

Parecia festa de final de ano de empresa. Todo mundo se conhecia, se cumprimentava e perguntava ao outro o que estava fazendo ali. Contavam sobre a vida, sobre o que o destino fez de cada um. Tinha gente de impresso, tv, faculdade, rádio. Um pouco de tudo. Em comum? Todos jornalistas e concorrentes. Disputavam uma vaga, a mesma, num desses concursos públicos se tornaram febre nacional.

Ali no meio eu não acredita no que via. Jornalista recém formada, pouquíssima experiência e/ ou oportunidade, resolvi fazer a tal prova. Não imaginava encontrar por lá profissionais de nome, renome e alguma projeção. Gente que eu achava estar realizada profissionalmente. E estavam ali, atrás de uma vaguinha no tal serviço público.

Perguntei pra um ou outro o que aquela vaga tinha de tão interessante. O meu descontentamento foi a resposta, que confrontou diretamente com os meus ideais. Aqueles profissionais gabaritados resolveram disputar a vaga porque paga-se bem e trabalha-se pouco. Isso me soou como acomodação demais!

Poxa vida! Escolheram a profissão de jornalistas, sabiam desde sempre, que teriam finais de semana sacrificados, plantões, horas-extras e eticetera e tal. Sabiam também se tratar de uma profissão mal remunerada e um tanto prostituída. Sabiam disso tudo e decidiram-se formar jornalistas e informar. Fazer das palavras instrumento de trabalho e um meio de, quem sabe, mudar a realidade ou parte dela.

Mas então, de repente, todos acabaram caindo no lugar comum. Desistem de mudar alguma coisa, de fazer por onde. Esquecem a vocação. Decidem dançar conforme a música, mesmo que não gostem da música... O serviço público, nesses casos, não merece mérito. É esconderijo de jornalistas perdidos nas notícias que os cercam.

Cabe aqui dizer que não acho o que o serviço público deva ser desmerecido. Não mesmo. O desmerecimento aqui é o motivo que os levaram à disputa da vaga. Não havia um ideal ali, mas a perda dele. Sem perspectiva, aqueles colegas encaravam a vaga, o concurso, apenas com olhos de cifrões...

Foi assim que encarei meus espelhos profissionais, com olhar perdido, descrente da profissão que escolheram. Tinha professor, que foi meu, que me ensinou ter paixão. Que me ensinou um bocado do pouco que eu sei. Fiquei pensando que ele me ensinou sem saber...

Marquei o gabarito, pensei respostas. Mas não consegui compreender o motivo que me levou a estar ali. No bolso, identidade, caneta, lápis nº. 2 e meus ideais e sonhos. Já não duvido que tudo na vida tem um preço.


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Thaís Palhares é belorizontina de nascença. Palhares de pai. Fernandes de mãe. Thaís de comum acordo. Jornalista por opção e por convicção. Escritora por paixão. Viva, por isso, incansável. Escreve aqui todas as sextas-feiras. Fale com ela: thaisgalak@gmail.com

 

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