|
|
||||||||||||||||||||||
|
|||||||||||||||||||||||
|
|||||||||||||||||||||||
Na última sexta não escrevi aqui. Se fez alguma diferença eu não sei. Porque, no fundo, não sei até onde minhas palavras dizem alguma coisa. Dizem muito de mim, do meu mundo, de uma perspectiva particular sobre o coletivo. Não tenho a pretensão de ser a dona da verdade, mas a verdade é que tudo em mim dói mais. Justificativas à parte, estou é tentando encontrar um meio de dizer alguma coisa sobre o acidente, sobre os mortos, sobre a cicatriz que está exposta numa das avenidas mais movimentas da cidade. Passo por lá e meus olhos ainda não acreditam na estupidez das coisas, do despropósito. Vocês não podem supor o cheiro que sai de lá é forte. Um cheiro de fumaça e de morte. Tudo é cinza. A gente olha e não acredita. Uma tragédia, sem dúvida. Uma tragédia anunciada, se pensarmos bem. Poucos dias antes um avião derrapou. Há algum tempo entrevistei um controlador de vôo e a coisa já não tava boa. Quem se lembra? Publiquei aqui... Temos essa mania de memória curta. Ou seria preguiça de pensar? Não sei... Não tenho conhecimento de causa para apontar culpados, causas, motivos. Mas tenho olhos vivos e incrédulos. Um buraco negro no meio da capital paulista. E a vida segue, mesmo sem explicações. Esse tipo de coisa me abala, mesmo. Tenho conhecidos que pegam avião todo dia. Vão pra lá e pra cá cortando os ares. Tenho vergonha de dizer que fiquei aliviada ao não reconhecer nenhum nome na lista. Mas eu me solidarizo, mesmo. Porque eu penso que poderia ter sido eu, alguém da minha família, algum amigo, conhecido de alguém, de qualquer um. Porque não só nomes, são gente que nem a gente. Tinha criança, adulto, tinha vida lá dentro. É triste, muito triste. Tudo vira notícia, especulação. E eu não sei o que dizer. Dizer o que? Me diz você? O que dizer para aquela senhora que esperava neta para passar as férias, que viu o avião pousando, mas... O que dizer para o noivo da comissária? O que dizer para a mãe que esperava as duas filhas? Ou para o pai da caloura de medicina? O que dizer? Me diz você... Me diz alguma coisa que possa aliviar o sofrimento... Eu não perdi nenhum parente, não perdi ninguém. Mas perdi um pouquinho da minha fé, mesmo. E cada um tem um jeito de lidar com perdas. Dessa vez, escolhi o silêncio. Porque, não sei muito o que falar, no máximo digo o que sempre se diz, e isso não diz muita coisa. Acho que há mesmo muito pouco, ou nada, que se possa dizer pra tornar a situação menos difícil, pra confortar alguém. Meu silêncio foi pro respeito à dor alheia. Não por indiferença. Agora, pouco a pouco, bem baixinho, ao mesmo tempo em que o cheiro e a fumaça se dissipam, eu começo a querer dizer que algo precisa ser feito. Chove na terra da garoa, a chuva vai lavando o chão. Nos olhos incrédulos, também chove. Os destroços vão sendo retirados... E, no lugar, vai surgindo um vazio imenso, um vazio de não sei o que... E que guardemos a culpa para o culpado.
Agora é hora de amparar as Leia também 13/07/07 22/06/07 15/06/07
01/06/07 25/05/07 18/05/07 11/05/07 04/05/07
20/04/07 06/04/07 |
|
||||||||||||||||||||||
|