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Baby Boom
     
 
 
     

O paradoxo da alteridade é esse: estamos unidos, porém separados. Ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.

Foto tirada daqui:
http://www.flickr.com/photos/rafamora/2228342446/

 

25/03/08
Sobre amor, progresso e solidão

Em meio a tanto progresso e avanço tecnológico que vivemos hoje, é interessante constatar como que do ponto de vista das relações afetivas continuamos a ser conservadores e obsoletos. Vivemos constantemente na premissa do amor romântico onde o outro tem que nos servir constantemente, isto é, o outro se torna um objeto que tem que fazer-me feliz e fazer com que me sinta completo e desejado. Em meio a tanto discurso de progresso o que se busca hoje não é uma relação onde existe individualidade, respeito, felicidade e o prazer de estar junto. Prevalece ainda a relação de dependência em que um responsabiliza o outro pela sua felicidade ou tragédia. O amor romântico nos mantém presos e divididos. Ficar sozinho se torna algo parecido com que se ficar doente, sinônimo de infelicidade e derrota. Este processo de divisão onde só posso ser feliz encontrando minha metade, historicamente tem levado a mulher ao cárcere da submissão. Ela abandona seus projetos, para se amalgamar ao projeto masculino. Essa é a intenção do amor romântico: o outro tem que saber o que não sei e vice-versa. Uma idéia funcional pratica e trágica.

A idéia de hoje deveria ser parceria. Deveríamos trocar o amor de necessidade, pelo amor de desejo, isto é, eu gosto e desejo a companhia do outro, mas não necessito o que é bem diferente. É interessante constatar que com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas paradoxalmente morrem de medo de ficar sozinhas. Não aprendemos a conviver bem com nós mesmos.

Não deveríamos mais nos sentir metades nem fragmentados. Somos inteiros. O outro que se estabelece o elo não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas mais um companheiro de viagem. Estamos na era da individualidade, porém nós tornamos egoístas. É interessante dizer que individualidade não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta sempre se “alimenta” da energia do outro seja ela financeira ou moral.

Em tempos modernos, o amor deveria ter mais sentido, feição e significado. Deveria unir pessoas inteiras e não juntar metades. Esta nova relação só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o sujeito conseguir trabalhar sua individualidade mais estará preparado para um encontro fundamental. Às vezes solidão é boa, ficar sozinho não é algo que temos que nós envergonharmos. Ao contrario da dignidade a pessoa. Boas relações são bem parecidas com ficar sozinho. O paradoxo da alteridade é esse: Estamos unidos, porém separados. Ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.

Com a globalização que deveria nos aproximar mais, as relações continuam a ser de dominação e concessões exageradas. Nosso modo de pensar, agir e viver não serve de referencia para avaliar ninguém. A idéia de alma gêmea nada mais é do que a invenção do outro ao nosso gosto e prazer.

Deveríamos ficar sozinhos de vez em quando, para construir um diálogo interno e descobrir nossa força pessoal. Na solidão (ainda que indesejável companheira), o individuo compreender que repouso e paz só podem ser encontrados dentro dele mesmo e não a partir do outro. Ao percebemos isto, nos tornamos mais tolerantes e compreensivos quanto as diferenças respeitando a maneira e o limite de cada um. Na contemporaneidade o amor de duas pessoas inteiras seria bem mais interessante e saudável, pois neste tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.


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Samuel Franco dos Santos é psicólogo, pós-graduando em Teoria Psicanalítica Fale com ele: samuelpsicologo@yahoo.com.br



   
 

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