
31/08/07
O mundo virtual não aceita latifúndios
Aprenda a usar
a “cuca” se você quiser chegar a algum
lugar
Bem, eu
estava realmente decidido a utilizar este nobre espaço
para dar continuidade à discussão (já
iniciada na semana passada) sobre a arquitetura e disposição
de informações em ambiente digitais. Seria
algo mais burocrático – e até mesmo
didático – mas um episódio me fez mudar
de idéia, pelo menos por hora.
Assistindo a uma aula com dois
grandes nomes do jornalismo cultural mineiro, acompanhei
o relato de experiências profissionais de várias
décadas. Reportando aos alunos acontecimentos históricos
como a diagramação dos jornais na era dos
fotolitos e “bricolagens” em cartolinas, a nobre
função dos copydesks (entre os quais era possível
encontrar médicos, engenheiros e outras profissões
de grande renome para a época), ficávamos
todos muito curiosos a respeito de um tempo.
Dando prosseguimento ao discurso,
os professores abordaram o tema da informatização
das redações. Claro, manifestaram-se a favor
do sem número de profissionais que foram demitidos
em função deste acontecimento.
Não me leve a mal, mas
tive de discordar.
Se você tem uma vaga
noção de como funciona uma estrutura (em termos
empresariais) de uma empresa de comunicação,
deve saber que, para ter um jornal, revista, rádio,
rede de TV, ou qualquer outro veículo, deve-se ter
muito, MUITO, dinheiro e influência. Deve saber também
que, os profissionais que ocupam vagas nestas empresas permanecem
anos, sem que sua posição seja ameaçada,
o que de certa maneira também gera desemprego (para
os recém formados). Isto para não falar de
questões “umbilicais”, como a luta e
a competição presente neste ambientes.
Mas digamos que a geração
da comunicação digital é um pouco diferente...
Pela primeira vez, na história
da comunicação, as idéias valem mais
que o dinheiro, a influência e a experiência.
E o jornalismo pena. A internet não tem dono, o texto
nunca está completo sem a colaboração,
o leitor, agora chamado de usuário, tem consciência
do jornalismo como prestação de serviços,
e, acima de tudo, cobra isto do repórter. Se por
um lado tínhamos a figura dos diretores, engravatados,
que conduziam a “proposta editorial” do veículo
(entenda as aspas como conotação política)
hoje temos uma geração aberta aos processos
de construção da narrativa jornalística,
que clama ao usuário o papel de emissor de informação,
ser ativo.
E se você quiser ficar
rico trabalhando com comunicação digital,
não apele para a experiência, use as idéias.
Sim, no mundo das informações
compartilhadas, não há espaço para
latifundiários. Uma única idéia (Youtube,
Napster, MySpace etc), bem aceita, pode dar ao profissional
uma posição relevante, sem que ele tenha de
se preocupar com o digladio diário das redações.
As mídias tradicionais
vivem dois dilemas. O primeiro (já solucionado) é
ter consciência da incapacidade de fazer frente às
novas tecnologias da informação. O segundo,
é aceitar isto.
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Salomão Terra
é jornalista, webpublisher, pós-graduando
em Jornalismo e Cultura pelo Uni-BH. Além de colaborador
e colunista do site O Binóculo, estuda Cibercultura
e Arquitetura da Informação, atua como webwriter,
matem o blog Infosfera e colabora em websites de tecnologia
e informação. Tecle com ele: salomaoterra@gmail.com
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