
26/10/07
Espelho Angolano
Não há nada mais
impressionante do que o "outro". Deparar-se com
o diferente, com o eu do você e do ele. Ainda mais
quando esse eu não fala a sua língua, não
come a sua comida ou não entende os seus hábitos.
Em Angola a língua é até a mesma, mas
as impressões...
Os primeiros passos em Luanda
são inseguros. Mais pelos meus anfitriões
do que por mim. "Não é bom andar sozinho"...
"não vá muito longe". Liberdade
cerceada não é do meu agrado. Cá pra
nós, para quem vive no Rio de Janeiro, já
estamos escolados em não dar bobeira.
Difícil é conseguir
se movimentar na cidade. Não pelo 'perigo', mas com
um trânsito de matar, milhares de carros se degladeiam
em terra (sim, terra mesmo), levantando poeiras, pedras
e pessoas. Lá vale mais ter um carro de última
geração do que uma boa casa. E tem que ser
o mais moderno e caro, mesmo que o dono tenha que dormir
no carro por não ter teto. E na selva que é
o trânsito de Luanda, não dá pra comprar
qualquer coisa. Os animais assustam com seu tamanho e potência.
A lei do mais forte é regra geral no trânsito.
Fora o estresse do trânsito,
Luanda tem boas opções para a noite. Restaurantes
na ilha, bares e boates de música variada pra todos
os gostos. Tão variada que assusta. Dançar
Ivete Sangalo e Grupo Revelação, logo depois
do bate-estaca e antes da 'tarrachinha' é normal.
E que tal dançar a tarrachinha?
No meio da balada, o ritmo muda e os pares se formam. É
hora da tarrachinha! Com o corpo colado, poucos movimentos
dos pés e muito quadril, os pares dançam esta
dança típica, que é um misto de romantismo
e dança do acasalamento.
E, por falar em romantismo,
o de lá é bem diferente daqui. Para se casar,
deve haver o "dia do pedido". O homem vai à
papelaria, compra a carta de pedido, preenche com os dados,
coloca o dinheiro do dote na carta e entrega à família.
A partir daí, tem 6 meses para casar, senão
paga multa. Bom, cada povo com o seu romantismo né...
É verdade que somos
muito diferentes e muito iguais. No fundo somos um mesmo
povo, temos as mesmas raízes e uma história
semelhante. Se Angola nos parece muito distante à
primeira vista, garanto que na segunda não parecerá
mais. Afinal de contas, somos frutos do suor angolano, descendentes
de uma mesma colonização.
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Pedro Amorim
é jornalista e relações públicas.
Acredita firmemente que as linhas cartesianas que alguém
resolveu colocar no mapa mundi servem exclusivamente pra
você andar sobre elas em todas as direções.
Boa viagem. Fale com ele: pedroamorim@gmail.com
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