
31/10/07
Sem papas na língua
Segundo nosso governador, Sérgio
Cabral, pobre tem mais chance de se tornar marginal. Em
um infeliz comentário Cabral, que já se mostrou
a favor da legalização das drogas, agora disse
que a legalização do aborto conteria a violência
e que a Rocinha era fábrica de produzir marginais.
Além de ofender os marginalizados / pobres / favelados,
Cabral fez surgir no nosso dicionário o nome de dois
países africanos, a Zâmbia e o Gabão,
ao comparar os índices de fecundidade destes países
com o das favelas cariocas. Dados que ele errou. Faltou-lhe,
pela enésima vez, respaldo teórico. Realmente
com a falta de iniciativas públicas e ações
eficazes do Estado os pobres tendem mesmo a caírem
na marginalidade. Não há emprego, não
há escolas decentes, ensino digno. Falta água,
luz, comida, emprego. Falta saúde. Falta a presença
do Estado. Sobra revolta.
Lamentável o comentário
vindo da boca daquele que governa (deveria) uma das metrópoles
mais importantes do país. A grande questão
é que o que se vê são inúmeros
playboys, filhinhos de papai, espancando empregadas pelas
madrugadas, colocando fogo em índio, arrumando encrencas
e confusões. E depois filho de pobre é que
é marginal. Cabral até tentou sair pela tangente,
dizendo que era pessoalmente contra o aborto, porém
favorável a uma discussão sobre o tema,
mas só fez aumentar a polêmica. Que a mulher
tenha liberdade sobre seu corpo para interromper uma gravidez
é até justificável. Cada um que aja
de acordo com suas crenças e convicções.
É justo um debate sobre o tema, ainda que num país
católico como o nosso a gente saiba que tudo continuará
na mesma. O grande erro do governador foi associar pobre
com bandido, o que são duas coisas completamente
distintas.
São esses pobres, os
marginais, que levantam cedo para trabalhar nos bastidores
das grandes empresas. São a mão-de-obra barata,
explorada e que fazem os serviços que os ricos não
fariam. Se o Hitler Cabral exterminasse os pobres/marginais
queria ver quem ia pegar no batente. Será que um
dos seus cinco filhos? Ou o nosso querido e sempre operário
Lulalá? É, Cabral pisou na bola mais uma vez.
Ainda bem que o brasileiro, com esse sol e esse jeitinho
que resolve tudo, tem uma memória de curta duração.
Também se não tivesse não teria eleito
o Collor novamente, nem teriam dado uma chance para Clodovil,
ACM e esses muitos que já conhecemos e chamamos pelo
nome. Tudo acaba mesmo é em pizza. Por isso que quando
a gente pensa que deu cem passos à frente, vemos
que ainda estamos na idade da pedra.
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Patrícia Caldas
é uma carioca que ama Belo Horizonte, mas não
abre mão das lindas praias da cidade maravilhosa.
Sua alegria está em escrever e gritar para os quatro
cantos do mundo suas verdades. Além de ter esperanças
de um mundo melhor, ser irônica e perspicaz, é
jornalista. Escreve todas as quartas-feiras na coluna Diz
Tudo. E-mail: p.jornalista@gmail.com
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