
24/10/07
Futebolisticamente falando
Depois de assistir a Seleção
Brasileira em campo um novo mundo se abriu diante dos meus
olhos o futebol. Senti o corpo inteiro arrepiar ao
som do hino nacional. Era como se aquele jogo fosse decidir
o rumo do mundo e eu estava ali, presente, de verde e amarelo,
cumprindo meu dever de patriota. Como não entendo
nada, a única coisa que sabia fazer era gritar que
nem uma louca, insistentemente, para que eles fossem para
frente: vai, vai, vai... Senti muita falta de
ouvir ao fundo uma narração. Senti saudades
até do Galvão, que coitado, foi inúmeras
vezes zuado. Não sabia quem era o jogador
com a posse de bola, não sabia se tinha sido um lance
sensacional, só sabia que estava ali, diante daquele
gramado verdinho, sentindo muito orgulho por sei lá
o que. E gritei gol cinco vezes. Essa foi a
melhor parte.
Eu sempre pensei que futebol
fosse à coisa mais chata do universo. Aquele monte
de homem correndo atrás de uma bola. Até hoje
não vejo muito sentido nesse jogo que faz qualquer
mulher ser deixada para escanteio, mas percebi algo que
me chamou a atenção. No campo, é como
se todos fossem amigos. A pessoa que está ao seu
lado de repente pega na sua mão, grita e torce junto
com você. E vocês discutem aquele lance que
era falta e o juiz não deu. E vocês falam mal
do juiz, do bandeirinha. E comemoram o gol. E bebem cerveja
juntos. E depois vão embora sem nem saber com quem
estavam nesse tempo todo. E o ciclo se repete de outras
formas, mas mais ou menos nessa linha e você conhece
outras e outras pessoas e a cada partida seu universo se
amplia. São pessoas que talvez você nunca mais
vá ver, que você não sabe onde moram,
o que pensam, mas que vêem na bola um lugar comum.
E eu me animei e fui pro Maraca
ver o Flamengo também. Tive um pouco medo, principalmente
porque o que sempre vemos é que teve facada, morte,
briga de torcida. Mas fui e gostei bastante. De bandana
na cabeça, com as musiquinhas ensaiadas e de radinho
na mão assisti à vitória do mengão
sobre o Grêmio como uma exímia torcedora. Pulei,
gritei e me emocionei vendo mais de 60 mil pessoas enlouquecidas
de amor pelo seu time. Arrepia qualquer um. Até hoje
as letras das músicas não saíram da
minha cabeça.
Continuo sem entender sobre
regras e também não faço muita questão
de sabê-las, mas sempre que puder estarei lá,
cantando sei lá o que, torcendo sei lá pra
quem. Afinal, quem foi que disse que mulher e futebol não
podem ser uma combinação perfeita?
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Patrícia Caldas
é uma carioca que ama Belo Horizonte, mas não
abre mão das lindas praias da cidade maravilhosa.
Sua alegria está em escrever e gritar para os quatro
cantos do mundo suas verdades. Além de ter esperanças
de um mundo melhor, ser irônica e perspicaz, é
jornalista. Escreve todas as quartas-feiras na coluna Diz
Tudo. E-mail: p.jornalista@gmail.com
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